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Mídia deturpa, picota e troca palavras do depoimento de Marcelo Odebrecht para prejudicar Lula.

Jornais picotaram e trocaram falas de Marcelo Odebrecht para prejudicar Lula

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Jornal GGN – É sintomático que, na era digital, quando informações são colocadas na rede à disposição de quem tiver interesse em conhecer os dois lados de uma mesma moeda, ainda haja espaço para manipulações. É o que ocorre na cobertura de uma parte da grande mídia em relação ao depoimento de Marcelo Odebrecht ao juiz Sergio Moro.
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O canal do Estadão no Youtube foi um dos primeiros a divulgar os quatro vídeos, no final da manhã desta quarta (12). À tarde, as páginas principais dos jornalões estavam divididas da seguinte maneira: metade do espaço era usado para manchetes que acusavam Lula de receber milhões em propina, e a outra metade, para distribuir entre os citados na lista de Janot 2.0.
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A chamada da Folha talvez seja uma das criações mais escandalosas. “Lula tinha R$ 40 mi em propina para sacar após o mandato, diz Odebrecht”. Na matéria, frases de Marcelo foram picotadas e trocadas de ordem para parecer que Lula tomou um xeque-mate. Mais do que isso: Folha escondeu deliberadamente o trecho em que Marcelo Odebrecht diz que não tem nenhuma prova de que Lula, de fato, sabia ou pediu para usar os recursos do fundo que a Odebrecht criou e chamou de “saldo Amigo”.
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Folha publicou:
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“A gente entendia que o Lula ainda ia ter influência no PT. O Lula nunca me pediu diretamente isso; eu combinava com o [ex-ministro Antonio] Palocci”, afirmou Marcelo.
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“Quando ele pedia isso, eu sabia que estava se referindo a Lula”, declarou o empreiteiro.
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Na íntegra, Marcelo disse:
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“Veja bem, o Lula nunca me pediu diretamente. Essa informação eu combinei com [Antonio] Palocci. Obvio que, ao longo de alguns usos [do saldo controlado por Palocci], ficou claro que realmente era para o Lula, porque teve uns usos que ficou evidente isso para mim. Teve uns que o pedido era feito e saia via espécie, e o Palocci pediu para mim que isso fosse descontado do saldo ‘Amigo’. Então, quando ele pedia para descontar do saldo ‘Amigo’, eu sabia que ele estava se referindo a Lula, mas não tinha como comprovar.”
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“A gente sabia que ia ter demandas de Lula, para questão de Instituto e outras coisas. Então a gente disse: ‘vamos provisionar uma parte desse saldo, uns 35 milhões, e colocamos no saldo Amigo, que é Lula’. Então, [o saldo era] para uso que era de orientação de Lula, porque a gente entendia que Lula ainda ia ter influência na presidência e no PT.” 
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O G1 tratou como se Lula tivesse recebido incontestavelmente R$ 40 milhões.
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UMA OUTRA NARRATIVA
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Mas tirar frases de contexto ou ignorar revelações que favorecem os acusados não foram os únicos expedientes adotados pela grande mídia no caso Odebrecht.
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O exercício inverso, o de colocar cada peça ofertada pelo delator em seu devido lugar, permite uma visão mais ampla do tabuleiro.
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Essa é a narrativa que não teve espaço nos jornais:
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– Marcelo começou sua relação com Antonio Palocci em 2008, ocasião em que criou um fundo que foi “gerenciado” pelo ex-ministro, em sintonia com interesses do PT.
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– Esse fundo só teve depósitos até 2010, depois disso, nunca mais. Mas Palocci teria gerenciado recursos para o PT até 2013.
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– Ao explicar o significado de alguns valores lançados numa planilha apreendida pela Lava Jato, Marcelo revelou que de tudo que ele doou ao PT, via caixa 2 ou doação regular, apenas dois repasses tiveram uma contrapartida: um de R$ 50 milhões, que foi o primeiro a entrar no fundo, tinha relação com a aprovação do “Refis da crise”; outro, de R$ 64 milhões, dizia respeito a uma negociação do governo Lula com Angola para liberação de uma linha de crédito da ordem de R$ 1 bilhão. Marcelo afirmou que Lula teria concordado em liberar parte do crédito à Odebrecht em troca de uma contribuição de 40 milhões de dólares ao PT. Tudo, de novo, discutido apenas com Palocci. Como a Veja enquadrou esse a história:
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– A partir dos 22 minutos do vídeo, Sergio Moro pula para o que interesse: valores ligados a um Programa B, que Marcelo disse se referir a Branislav Kontic, assessor de Palocci. Todos os recursos ali disponíveis (R$ 13 milhões) teriam sido sacados em dinheiro vivo, entre 2012 e 2013.
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– No vídeo, fica claro que as listas de Moro e Marcelo eram diferentes. Só na do juiz, que é um documento que aparece no relatório da Polícia Federal, um valor foi adicionado logo abaixo de seis repasses do Programa B. Foram os R$ 4 milhões que foram doados ao Instituto Lula. A Lava Jato usa isso para insinuar que além dos R$ 4 milhões, Lula teria sido o destinatário dos R$ 13 milhões em dinheiro vivo.
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– Brani nunca conversou sobre valores ou pagamentos. Só cuidava da agenda de Palocci.
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– Sobre a compra do terreno do Instituto Lula, Marcelo diz que foi procurador por Paulo Okamotto ou José Carlos Bumlai (não se lembra direito), porque Roberto Teixeira e o pecuarista teriam acertado a compra de um terreno, de R$ 12 milhões, que serviria à construção do IL. Marcelo diz que eles pediram para a Odebrecht comprar como uma “doação” e, depois, desistiram. O terreno foi vendido e o valor foi depositado num fundo chamado “saldo Amigo”. O valor do terreno saiu do caixa gerido por Palocci.
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– Sobre a doação de R$ 4 milhões: Marcelo disse que a intenção da Odebrecht era doar uma bolada de uma vez só ao Instituto Lula, mas que os responsáveis não aceitaram. Os R$ 4 milhões teriam saído do “saldo Amigo”, solicitados a Alexandrino Alencar.
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– Sobre os R$ 40 milhões: Marcelo disse que quando Lula saiu da presidência da República, a Odebrecht entendeu por bem separar recursos – o “saldo Amigo” – para atender qualquer “demanda” que pudesse surgir relacionada a Lula, pois o petista, ainda que aposentado, com certeza manteria influência sobre o governo Dilma e o PT. A existência do “saldo Amigo” foi avisada a Palocci. Os R$ 13 milhões do Programa B sairam desse caixa a pedido de Palocci e, apenas por isso, Marcelo entendeu que era uma “demanda” de Lula. Mas “não tinha como provar isso”.
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– O depoimento de Monica Moura sobre pagamentos por campanhas do PT descontrói o de Marcelo. Ele diz que disse a Dilma Rousseff que sua campanha de 2014 seria “contaminada” por caixa 2 pago na Suíça ao marqueteiro João Santana. Mônica Moura diz que os valores citados pelo empresário não estão relacionados à campanha de 2014 e tampouco foram pagos em contas no exterior.
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