A verdade sobre o assassinato de JK, por Luis Nassif
sex, 15/12/2017 – 10:41
Em meados do ano passado, um grupo de professores da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e de historiadores da USP decidiu investigar as circunstâncias da morte de Juscelino Kubitscheck. Resultou do trabalho um volume alentado com um conjunto significativo de indícios apontando para o assassinato.
Presidida por Pedro Dallari, a Comissão da Verdade ignorou os estudos. Agora a Comissão da Verdade de Minas Gerais se junta à Comissão da Verdade de São Paulo endossando a tese do assassinato.
Aqui, trechos da reportagem publicada pelo GGN ˆEntenda por JK foi assassinado” em 6 de julho passado, a partir de entrevista com Léa Vidigal Medeiros, coordenadora do projeto.
Juscelino morreu em um acidente de carro em 22 de agosto de 1976, na Via Dutra, enquanto saía de São Paulo em direção ao Rio de Janeiro. Segundo notícias da época, estava indo ao encontro de uma amante. O veículo, um opala dirigido pelo motorista Geraldo Ribeiro, levou uma batida de um ônibus que vinha logo atrás e, no desvio, se chocou com uma carreta que ia em sentido contrário.
O acidente ocorreu em uma área plana, em linha reta e com um carro novo para a época, pontos que suscitaram dúvidas se o ex-presidente teria ou não sofrido um atentado.
Enquanto preparava sua dissertação de mestrado sobre a importância do BNDES para o desenvolvimento Lea se deparou com o papel do banco na realização do Plano de Metas do governo Juscelino e acabou encontrando documentos esparsos sobre a morte do ex-presidente que revelavam indícios de um atentado planejado no âmbito da Operação Condor, uma aliança político-militar entre os regimes militares da América do Sul com apoio do governo norte-americano.
Documentos trocados entre embaixadas brasileiras e norte-americanas comprovam, por exemplo, que Juscelino era monitorado pelo serviço secreto norte-americano desde 1963. Nessas cartas os americanos destacavam que ele era o político mais popular da época, com grandes chances de ganhar novas eleições presidenciais.
A viagem para o Rio foi marcada para encontrar uma velha amiga e empresária portuguesa. JK pretendia fechar um negócio. “Juscelino, naquele período, estava sem um sustento garantido, ao contrário do que diziam, que tinha a sétima fortuna do mundo”. Há provas de que dois dias após o atentado fatal tinha um encontro secreto com generais contrários ao governo golpistas marcado com a ajuda do seu primo Carlos Murilo, que está vivo e prestou depoimento para o Grupo de Trabalho JK.
“Ele tinha ambição de se candidatar e voltar a ser referência política para o Brasil”, pontuou Lea. Antes de ir para o Rio, JK tinha acabado de voltar de um encontro com governadores da Bacia do Prata e chegou a ficar alguns dias na casa do jornalista e amigo Adolfo Bloch, dono da Manchete.
Pouco antes do acidente que o vitimou, JK parou no Hotel-Fazenda Villa-Forte cujo proprietário era o brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte, amigo do general Golbery do Couto e Silva e um dos criadores do Serviço Nacional de Informação (SNI).
Segundo depoimento do filho de Villa-Forte, Gabriel, que estava presente naquela tarde de domingo, o hotel estava vazio e o ex-presidente ficou lá por quase duas horas. Depois ele e o motorista voltaram para a estrada e poucos minutos depois aconteceu o acidente. Um depoimento dado pelo manobrista do hotel, e registrado na época, destacou que o motorista Geraldo Ribeiro estranhou o carro assim que pegou para retomarem a viagem.
A colisão com o ônibus também não teria acontecido. “Tem fotografias revelando que a traseira esquerda do opala, onde a perícia disse que teria sido o ponto de colisão entre o carro e o opala estava inteira no momento seguinte da colisão, mas, no dia seguinte, a polícia fabricou outras fotos com a traseira esquerda avariada. Ou seja, a avaria do Opala que serviu de causa, digamos, do acidente, foi produzida depois do acidente, em algum momento posterior”. Lea afirmou que existem cálculos matemáticos feitos para reproduzir o acidente na época demonstrando que as provas oficiais produzidas para fechar o caso foram “primitivas” e que claramente “adulteram o local do acidente”.
A imagem assassinada
Antes de perder a vida, JK enfrentou tortura psicológica e assassinato de imagem. O boato de que seria dono da sétima fortuna do mundo, por exempla, foi diversas vezes espalhado em jornais da época como fruto de corrupção de dinheiro desviado da construção de Brasília. Mas a realidade de Juscelino naquela época era outra.
“O coronel Affonso Heliodoro, que está vivo, contou que o visitou algumas vezes no exílio para levar dinheiro. Ele viu Juscelino contar moedas”. O entrevistador Luís Nassif também lembrou que o banqueiro e empresário Walther Moreira Salles contou que chegaram a fazer “uma vaquinha” para um tratamento médico de JK.
Segundo Lea, as propagandas falsas contra o ex-presidente foram arquitetadas entre as embaixadas do Brasil e Estados Unidos. “Veículos de comunicação da época, como Jornal do Brasil, repetiam calunias e todas essas histórias falsas como se fossem verdade. Por exemplo, tinham notícias do tipo ‘saiu documentos que provam a corrupção na construção da Ponte da Amizade no Paraguai ‘, e o documento nunca apareceu, mas a notícia estava lá, repetida várias vezes até a exaustão”. JK chegou a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal que o absolveu por falta de provas quanto ao crime de corrupção.
Clique aqui e tenha acesso aos dois volumes do Relatório da Comissão da Verdade Rubens Paiva sobre o assassinato do Presidente JK:
Aqui, a entrevista com Léa Vidigal Medeiros, coordenadora do projeto, para o programa do GGN ‘Sala de Visitas com Luis Nassif’. Sua participação começa aos 24 minutos.