A taxa atingiu o maior índice desde 2012, quando iniciou a atual forma de cálculo; as projeções de contração do PIB de 2016 são de 3,5%
AFP
A taxa de desemprego no Brasil subiu a 12% no último trimestre de 2016, contra 11,9% no trimestre anterior, um nível recorde desde o início da atual forma de cálculo, em 2012, informaram nesta terça-feira (31) fontes oficiais.
Os analistas consultados pela agência Gradual Investimentos apostavam, em média, em uma manutenção da taxa em 11,9%.
No quarto trimestre de 2015, o desemprego era de 9%. Sua piora, de 3%, ocorreu em um país que viveu seu segundo ano consecutivo de recessão econômica.
No fim de 2014, se situava em 6,5%, praticamente duplicando nestes dois anos.
No período outubro-dezembro de 2016 houve um total de 12,3 milhões de pessoas em busca de emprego no Brasil, 36% a mais (3,3 milhões de pessoas) que no mesmo período de 2015, disse o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Brasil registrou uma recessão de 3,8% em 2015 e as avaliações de 2016 são de uma contração do PIB de 3,5% (os resultados serão publicados em março).
O governo de Michel Temer lançou uma série de medidas de austeridade com a intenção de recuperar a confiança dos investidores para reativar a economia.
Já a construção extinguiu 857 mil postos de trabalho em dezembro ante um ano antes, queda de 10,8% na ocupação no setor
Agência Estado
Em meio a mais um ano de crise na produção, a indústria manteve as dispensas de empregados no País. A atividade cortou 955 mil trabalhadores no período de um ano, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O total de ocupados na indústria recuou 7,7% no trimestre encerrado em dezembro de 2016 ante o mesmo período do ano anterior.
Já a construção extinguiu 857 mil postos de trabalho em dezembro ante um ano antes, queda de 10,8% na ocupação no setor. “Os grupamentos mais afetados pela crise foram indústria e construção”, apontou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
O comércio, que costuma contratar funcionários temporários no fim do ano, dispensou 75 mil empregados no trimestre encerrado em dezembro ante o mesmo período do ano anterior, queda de 0,4% na ocupação no setor.
Outras atividades com corte de vagas foram agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-417 mil empregados, recuo de 4,5% no total de ocupados), administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (-110 mil vagas, queda de 0,7%) e serviços domésticos (-238 mil empregados, redução de 3,7% no total de ocupados).
O setor de Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas – que inclui alguns serviços prestados à indústria – registrou um avanço 174 mil vagas em um ano, 1,8% de ocupados a mais.
Também houve aumento em dezembro no contingente de trabalhadores de alojamento e alimentação (+247 mil empregados), outros serviços (+165 mil pessoas) e transporte, armazenagem e correio (+99 mil ocupados).
Estudo do Caged mostra que, pelo terceiro ano seguido, Betim extinguiu mais vagas de trabalho do que gerou
José Augusto Alves
O operador de produção Jorge Wilson foi um dos 8.449 trabalhadores betinenses que perderam o emprego em 2016. Após seis anos trabalhando em uma empresa de que fabrica peças automotivas, ele foi despedido em outubro passado.
“Foi ruim, porque nessa crise que o país vive hoje ficar sem emprego é complicado. Mesmo assim, já comecei a me cadastrar em agências de emprego, atualizar dados em outros cadastros e pedir indicações de amigos que souberem de alguma vaga” disse. “Ficar no seguro-desemprego é que não dá mais”, completou.
Decadência da economia
O levantamento indica que o país tem a sexta maior taxa de desempregados ampliado entre 31 países desenvolvidos e emergentes que foram avaliados
PUBLICADO EM 23/01/17 – 12h04
Agência Estado
A deterioração do mercado de trabalho no Brasil é muito mais profunda do que indicam as pesquisas tradicionais. Segundo estudo comparativo do banco Credit Suisse, o Brasil está entre os recordistas globais do chamado desemprego ampliado. O levantamento indica que o Brasil tem a sexta maior taxa de desemprego ampliado entre 31 países desenvolvidos e emergentes que foram avaliados.
Em síntese, a taxa de desemprego tradicional considera apenas quem procura trabalho e não encontra. A taxa de desemprego ampliada usa uma métrica mais complexa: inclui quem faz bico por falta de opção e trabalha menos do que poderia ou desistiu de procurar trabalho – sofre do chamado desalento.
De acordo com os dados mais recentes, do terceiro trimestre de 2016, a taxa de desemprego ampliada do Brasil bateu em 21,2% – quase o dobro do desemprego oficial, que nesse período alcançou 11,8%. Por esse critério, perto de 23 milhões de brasileiros estariam desempregados ou subutilizados.
Numa comparação internacional, a taxa de desemprego ampliado do Brasil está bem acima da média dos países analisados, que é de 16,1%. Também fica acima da taxa de países com renda comparável a do Brasil, como México (18,3%) e Turquia (15,9%). O Brasil está atrás apenas de países profundamente afetados pela crise internacional: Grécia (o recordista, com 31,2% de desemprego ampliado), Espanha (29,75%), Itália (24,6%), Croácia (24,6%) e Chipre (23,8%).
Esta é a primeira vez que um levantamento do gênero inclui o Brasil e isso só foi possível porque agora há dados disponíveis no organismo oficial responsável por acompanhar o mercado de trabalho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desde novembro do ano passado, o IBGE oferece informações complementares sobre a subutilização da força de trabalho.
Foi com base nessas novas estatísticas que o banco organizou o levantamento. “Os novos indicadores oficiais permitem uma visão mais abrangente sobre a realidade do mercado de trabalho brasileiro e uma comparação internacional”, diz Leonardo Fonseca, economista do Credit Suisse que coordenou o estudo.
O paulistano Tiago de Oliveira Souza, 32 anos, é um exemplo da sutileza da nova estatística. Ele não engrossa a taxa de desemprego tradicional, pois tem uma ocupação: é motorista do Uber. Mas preenche os requisitos para compor a taxa de desemprego ampliado porque é subutilizado. Souza trabalha menos horas do que poderia. “Tento fazer 8 horas por dia, mas nem sempre consigo, porque tem concorrência. A demanda oscila, tudo é muito imprevisível”, diz.
Tiago também está numa atividade abaixo de suas qualificações. Fala, lê e escreve em inglês com facilidade. Tem, na sua definição, nível “intermediário avançado”. Apenas 5% dos brasileiros têm esse domínio do idioma. De 2004 a 2014, foi metalúrgico na Mercedes-Benz Caminhões, em São Bernardo do Campo (SP). Foi de montador a inspetor de qualidade.
Aderiu a um programa de demissão voluntária pois achou que poderia fazer carreira em outra atividade. Ocorre que, naquele momento, a crise chegou e as suas possibilidades foram se estreitando. Souza, que toca guitarra e violão, foi ser vendedor numa loja de instrumentos musicais, mas não se adaptou. “As metas eram altas e as vendas caíam”, diz.
Decidiu, então, trabalhar num bar de jazz, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo). “Em maio do ano passado, o bar não resistiu e fechou”, diz ele.
Por quatro meses, distribuiu currículos, sem sucesso. Sobrou ser motorista. “O Uber era para complementar renda e virou atividade principal. Ainda bem que eu tenho isso.”
O economista Sérgio Firpo, professor e pesquisador do Insper, lembra que há muitos critérios para medir o desemprego. Historicamente, o desemprego do IBGE foi inferior ao do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “O que importa é que haja padronização”, diz Firpo. Nesse caso, o desemprego ampliado é um refinamento nas estatísticas que aperfeiçoa a análise do mercado de trabalho.
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