Fidelidade a Temer na Câmara despenca e aprovação de reformas já é dúvida
Michel Temer, que antes se gabava abertamente do amplo apoio no Congresso Nacional, já enfrenta a realidade de suas políticas impopulares; às vésperas das votações das reformas, principais prioridades de seu governo, a fidelidade dos deputados às indicações do peemedebista vem caindo de maneira constante desde julho do ano passado.
Os números revelam que, quanto mais recente o intervalo analisado, maior é a queda do governismo na Câmara; nas primeiras 20 votações nominais do governo Temer, por exemplo, 92% dos deputados seguiram orientação do Planalto; já nas 20 mais recentes, apenas 68% fizeram o mesmo
24 de Abril de 2017 às 04:44
247 – Às vésperas das votações decisivas das reformas, Michel Temer precisa enfrentar a infidelidade crescente dentro de sua própria base.
A fidelidade dos deputados federais às orientações do governo no Legislativo vem caindo de maneira constante desde o fim de 2016. Se em julho daquele ano a média de apoio ao governo na Câmara dos Deputados foi de 91% —o maior índice de governismo já registrado desde 2003—, em abril deste ano essa taxa caiu para 79%, uma queda de 12 pontos percentuais.
As informações são de reportagem de Rodrigo Burgarelli e Daiene Cardoso no Estado de S.Paulo.
“Os dados são do Basômetro, ferramenta interativa do Estadão Dados que coleta todas as votações nominais ocorridas no Congresso e compara os votos dos deputados com as orientações do governo.
Segundo o levantamento, o fim da lua de mel entre Temer e os parlamentares ocorre no exato momento em que algumas das medidas mais importantes para o governo estão prestes a entrar na pauta, como as reformas da Previdência e trabalhista.
Os números revelam que, quanto mais recente o intervalo analisado, maior é a queda do governismo na Câmara. Nas primeiras 20 votações nominais do governo Temer, por exemplo, 92% dos deputados seguiram orientação do Planalto. Já nas 20 mais recentes, apenas 68% fizeram o mesmo”.
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Greve geral poderá ser o começo do fim
22 de Abril de 2017
Todos devem se lembrar dos protestos ocorridos em 2013. Capitaneados pela direita e pela mídia, especialmente a TV globo, as imensas manifestações populares se constituíram no início do processo golpista. Na ocasião se forjou toda uma narrativa para justificar a trama com vistas a deslegitimar o governo e o Partido dos Trabalhadores e para se iniciar o enredo que culminou num golpe sem canhões. Uma ruptura democrática que levou ao poder um governo sem votos e cujo programa é exatamente o oposto daquele que venceu nas eleições de 2014.
Nas democracias, mesmo as de baixíssima intensidade como a brasileira, as massas populares nas ruas têm um poder descomunal. Quando menciono as massas, não estou tratando de manifestações organizadas por setores de direita e de esquerda. Essas foram abundantes (e importantes) nos dois últimos anos, mas se limitam às disputas entre esses dois segmentos. Quero me referir aos eventos públicos que envolvem vários segmentos sociais, políticos e econômicos que se congregam na luta por pautas comuns, ou contra um determinado regime ou governo.
É por isso que a greve anunciada para o próximo dia 28 de abril é tão importante. Ao que tudo indica e até que enfim, parece que há uma união de diversos segmentos da sociedade (sindicatos, partidos, movimentos sociais e eclesiais) a se levantarem contra o bando que tomou o poder e produz o maior assalto às riquezas e aos direitos dos brasileiros.
A greve do dia 28 tem potencial para iniciar uma reversão do golpe. Se, realmente, os trabalhadores dos setores estratégicos da economia cruzarem os braços e a população tomar as ruas poderemos, pela primeira vez, vislumbrar uma reação popular ao golpe. O que não ocorreu até agora.
É preciso que as lideranças sociais, políticas e sindicais de vanguarda deixem por algum tempo as picuinhas que as dividem e somem esforços no sentido de fazer do dia 28 de abril o primeiro de uma série de imensas paralisações sequenciais no país. E que não haja uma desmobilização quando algumas migalhas forem oferecidas (pelo bando no poder) em troca do avanço das medidas legislativas que rasgam a Constituição Federal de 1988.
Como todos percebem, a coalizão perversa que rouba os nossos direitos e soberania tem presa para executar o trabalho sujo encomendado pelos rentistas. Querem liquidar a fatura do golpe o mais rápido possível, alterando a Constituição, eliminando a justiça do trabalho, eliminando direitos sociais, trabalhistas e previdenciários, reduzindo drasticamente a capacidade interventiva do Estado em benefício do rentismo local e internacional, além de entregar o país numa condição colonial aos usurpadores do Norte.
Como nenhuma instituição da república, lamentavelmente, tem as mãos limpas para liderar processos de enfrentamento da coalizão golpista, somente as grandes massas populares nas ruas poderão sinalizar ao bando no poder que o povo não aceitará a agenda neoliberal que está em curso.
É preciso aproveitar desse evento para o início de uma grande concertação nacional, respaldada pela população, para a superação do golpe. Essa concertação deve ter como fulcro não necessariamente um candidato ou partido, mas uma agenda que priorize eleições diretas e a convocação de uma nova constituinte para reformar os sistemas político, de justiça, de mídia e de tributação, entre outros.
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Reformas e greve geral são desafios à desanimada equipe de Michel Temer
Recuos na Previdência garantirão só sobrevida ao sistema
Manifestações podem dar novo ingrediente à crise: as ruas
Leia no Poder360 a opinião do jornalista Luis Costa Pinto
Luís Costa Pinto
24.abr.2017 (segunda-feira) – 6h45
atualizado: 24.abr.2017 (segunda-feira) – 7h38
Esta é uma semana de 10 dias
Arrefeceram o ânimo, o arrivismo e a pró-atividade dos principais conselheiros de Michel Temer. O desânimo já contaminou, também, o próprio Temer. Na última semana um deles mandou às favas quaisquer cerimônias e deixou aflorar os pruridos da consciência. Perguntou ao inquilino do Palácio do Jaburu se ele estava à vontade no cargo e se o caminho trilhado para chegar ao poder, via impeachment, havia sido mesmo a melhor opção para o grupo político que articulou a deposição de Dilma Rousseff.
Não se ouviu uma resposta direta na sala, e isso espantou o interlocutor de Temer. Ato contínuo, a conversa tergiversou para a necessidade de aprovação “das reformas” que tramitam no Congresso. A Trabalhista e a da Previdência. O conselheiro insistiu e quis saber se havia respostas para uma sequência de perguntas metralhadas mais ou menos assim: “Aprovar reformas para quê? Para quem? Essa agenda é nossa? E se ela for entregue agora, do jeito que a mídia quer, do jeito que o mercado quer, o que acontece?” Novo silêncio, nova mudança de rumo no papo.
As concessões feitas à base governista, cada vez mais esgarçada na Câmara e totalmente dispersa no Senado, reduziram o texto da reforma da previdência (que é tíbio e medroso ao não mexer em privilégios centrais de militares das Forças Armadas, do Poder Judiciário, de policiais civis e militares nos estados, entre outros) a 57% do impacto financeiro que inicialmente se imaginava. O cálculo é do núcleo de acompanhamento econômico do Banco Itaú. Dentro da equipe do Ministério da Fazenda, onde sorrisos plásticos mal disfarçam a impaciência com a lassidão das negociações políticas, o prognóstico é menos danoso –estima-se que o substitutivo do deputado Arthur Maia é ainda 70% da proposta original.
Nos dias em que os auxiliares de Temer, ministros e técnicos, ainda andavam pelo Palácio do Planalto deslocando ar à medida que avançavam os passos, falava-se numa reforma “definitiva” da Previdência Social. Agora, admite-se que o conjunto de mudanças, caso seja aprovado do jeito que está (e não será, porque o Senado mexerá nelas), assegura uma sobrevida do sistema previdenciário por mais 10 ou 12 anos sem novas reformas. Muito barulho por tão pouco num cenário de legitimidade escassa dos parlamentares e da equipe palaciana.
A reforma trabalhista, que pode ser votada na 4ª feira (26.abr.2017) diretamente no plenário da Câmara, deverá funcionar como um primeiro catalisador de insatisfações difusas na sociedade. Até aqui, como as quase 300 alterações que o relator Rogério Marinho propõe na Consolidação das Leis do Trabalho ficaram em segundo plano na cobertura jornalística, embaçadas pela Lava Jato e pela Reforma da Previdência, a desinformação garantiu o avanço da pauta. Mas no dia em o plenário recepcionar o projeto haverá intensa mobilização de sindicatos em Brasília –e eles parecem ter renascido das cinzas a que se haviam transformado no curso da guerra do impeachment.
A chacina de agricultores em Colniza (Mato Grosso) ampliou para 17 o número de sem-terras assassinados só em 2017 e catapultou o MST de volta para o centro das mobilizações populares. Há corpos estendidos na mata –e quando há corpos há bandeiras. Os segmentos mais populares da Igreja Católica, desde sempre identificados com o MST, voltaram a dialogar com alas mais conservadoras e urbanas do clero que estão mobilizadas para o combate à Reforma da Previdência. É possível que na 4ª feira (26.abr), sindicatos e movimentos rurais, recebendo apoio de setores da CNBB e de um movimento cada vez mais capilar na sociedade –o dos sem-teto– organize na Esplanada dos Ministérios, diante do Congresso Nacional, uma “solenidade popular” de vigília para a greve geral agendada para a 6ª feira (28.abr).
A greve geral convocada para o dia 28 recebeu apoio decidido de professores de escolas particulares do Rio de Janeiro e de São Paulo. Certamente os sindicatos de professores de escolas privadas de outras capitais como Belo Horizonte, Brasília, Recife, Salvador, Fortaleza e Porto Alegre adiram –numa solidariedade impactante para a classe média que não ocorria desde os anos 1980. Metroviários, motoristas de ônibus e diversos outros setores da sociedade– em algumas cidades, comerciários –estão intensa e silenciosamente mobilizados e devem parar 6ª feira. Se a greve furar o duro bloqueio que há na mídia tradicional, também ela mobilizada numa espécie de “ordem unida” para evitar chamar atenção para a convocação de paralisações, a crise política que é agravada e agravante, ao mesmo tempo, da crise econômica, ganha de vez novo ingrediente: a rua.
Além de tudo isso, haverá ainda movimentações processuais dentro dos inquéritos da Lava Jato e, do ponto e vista palaciano, a mais constrangedora delas é o pedido de informações feito pelo ministro Luiz Edson Fachin para que o procurador-geral Rodrigo Janot explique por que não pediu investigações em torno da figura e Michel Temer. Janot, que ainda embala o sonho de uma nova recondução ao comando da Procuradoria Geral da República, terá de explicar com todas as letras e sem tergiversações esses porquês. Tudo se passa em dias que tendem a se agravar com a busca, já pública, de novo nome para o Ministério da Justiça: Osmar Serraglio, investigado na Operação Carne Fraca, mimetizou o nome da espetaculosa ação deflagrada para desbaratar uma quadrilha de vendedores de facilidades a frigoríficos e é ele mesmo um pedaço fraco de carne vagando qual zumbi pelos corredores ministeriais. O Planalto analisa currículos para a cadeira de Serraglio, que vagará.
A semana que começa hoje (24.abr) será a mais longa desse grupo –não necessariamente a melhor. Ela não se encerrará nem mesmo no 1º de maio, quando sindicalistas voltam às ruas para fazer cobranças e protestos na data quase universal do Dia do Trabalho. A agonia só terá fim, com roteiro ainda incerto, depois do depoimento do ex-presidente Lula em Curitiba diante do juiz Sérgio Moro. A oitiva está agendada para a tarde de 3 de maio. Ou será o epílogo de uma quadra sensível para Temer e seu governo, ou se está escrevendo o prólogo de novos e insondáveis capítulos da República.