Indicação de Kátia Abreu pode ter sido o tiro que fez Joesley reagir, eleger Cunha e financiar derrubada de Dilma
04 de junho de 2017 às 21h51
Da Redação
Em agosto de 2013, a então senadora e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu (PSD-TO), subiu à tribuna do Senado em nome dos que fariam parte da “classe média do campo” para denunciar o cartel da JBS e a propaganda da marca Friboi (veja o discurso acima).
Uma das críticas da senadora foi ao financiamento do BNDES — mais de R$ 7 bilhões — que permitiu a rápida expansão do grupo.
Indicada para ocupar o Ministério da Agricultura no segundo mandato de Dilma Rousseff, Kátia sofreu forte reação de um dos donos da JBS, Joesley Batista.
Ele foi pessoalmente ao Palácio do Planalto tentar derrubar Kátia antes mesmo dela assumir o cargo, conversando com o então ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Na mesma época, a JBS fez uma consulta sobre a nomeação ao vice-presidente Michel Temer, do PMDB, que confirmou que haveria a troca de ministro. O anterior, o gaúcho Neri Geller, era da cota do PMDB e a nova titular do MAPA, do PSD.
Depois, Joesley teve um encontro para tratar do assunto com Dilma Rousseff, sobre o qual não foram revelados detalhes.
Kátia assumiu o cargo, mesmo tendo sido a JBS a maior financiadora da campanha de Dilma, com R$ 67,9 milhões.
Talvez isso ajude a explicar os próximos passos de Joesley.
Em dezembro de 2014, o deputado Eduardo Cunha lançou sua campanha à presidência da Câmara dos Deputados. Em sua delação premiada, Joesley disse que deu R$ 30 milhões ao aliado de Temer, que “saiu comprando um monte de deputados Brasil a fora”.
Cunha venceu com 267 votos contra 136 de Arlindo Chinaglia, do PT. Foi o início do fim de Dilma.
Mais tarde, o PT negou a Cunha os votos que poderiam livrá-lo da abertura do processo de cassação na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados.
Temer disse que nada teve a ver com o impeachment, que nada tramou contra Dilma, mas foi desmentido por Cunha. Segundo o hoje presidiário, o pedido de impeachment apresentado pelos advogados Janaína Paschoal, Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo foi lido e aprovado por Temer antes da abertura da ação.
O usurpador já admitiu, em mais de uma oportunidade pública, que Dilma não caiu por causa das “pedaladas fiscais”, mas por vingança política de Cunha — na qual afirma não ter tido envolvimento.
Agora, é desmentido pelo seu próprio marqueteiro, que disse em entrevista ao Estadão ter recebido dinheiro de Joesley Batista para derrubar Dilma:
Publicitário liga Joesley a impeachment
Acusado em delação de receber propina, Elsinho Mouco, marqueteiro de Temer, diz ter sido pago por empresário para ‘derrubar’ a petista
Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo
Acusado por Joesley Batista em sua delação premiada de ter recebido R$ 3 milhões em propina da JBS na campanha de 2010 e outros R$ 300 mil em espécie em 2016 a pedido do presidente Michel Temer, o publicitário Elsinho Mouco disse ao Estado que o empresário o contratou com dois objetivos: eleger o irmão José Batista Júnior em Goiás e “derrubar” a presidente Dilma Rousseff na esteira do movimento pelo impeachment.
Numa das conversas entre eles, em maio de 2016, no auge do movimento “Fora, Dilma”, Joesley se ofereceu para pagar por um serviço de monitoramento de redes sociais que nortearia a estratégia do PMDB de blindagem a Temer.
Na ocasião, foi incisivo: “Vamos derrubar essa mulher”.
Marqueteiro oficial de Temer desde 2002, quando o peemedebista foi eleito deputado federal, Elsinho é ainda hoje o principal conselheiro de comunicação do presidente e um dos redatores de seus discursos.
Foi ele, por exemplo, que escreveu o pronunciamento no qual Temer finalizou dizendo com o dedo em resiste “Não renunciarei”.
Contratado pelo PMDB, Elsinho também foi um dos criadores do programa Ponte para o Futuro e autor de ideias como slogan “Bora, Temer” para substituir o “Fora, Temer” no pós-impeachment de Dilma.
Sua narrativa de defesa, que ainda será apresentada, começa em 2009, ano em que foi chamado para coordenar o projeto político do irmão mais velho da família Batista, e termina em janeiro de 2017 em um encontro regado a “Whisky 18 anos” e “camarões gigantes” na residência de Joesley, no bairro Jardim Europa, na capital paulistana.
Indicado por um amigo em comum, Elsinho desembarcou em Goiânia em 2009 com a missão de colocar “Junior Friboi” na acirrada disputa pelo governo goiano no ano seguinte.
O marqueteiro conta que gravou vídeos, fez logotipo, encomendou pesquisas e fez tudo mais que o script de uma campanha competitiva e com recursos ilimitados exige.
Total de gastos ficou em R$ 3 milhões. Mas quando a disputa estava para começar para valer, Joesley “deu de presente” ao irmão a consultoria de outro marqueteiro renomado e Elsinho foi dispensado.
Junior Friboi acabou, entretanto, desistindo de entrar na política, pelo menos naquele momento.
Player. Era uma quarta-feira no começo de maio do ano passado, quando Elsinho recebeu um convite de Joesley para uma visita.
“Ele era um player, o maior produtor de proteína animal do mundo. Era objeto de desejo de todo mundo. Cheguei com duas horas de antecedência para não correr o risco de ficar parado no trânsito”, contou o marqueteiro.
Seu objetivo era conquistar a conta publicitária de pelo menos uma das inúmeras empresas do grupo, mas a conversa enveredou por outro caminho.
“Para minha surpresa, ele chamou Dilma de ingrata, grossa e incompetente. E disse: ‘Temos que tirá-la’”, lembrou.
A surpresa se deve pelo fato da JBS sempre ter mantido boas relações com os governos do PT.
Apesar do crescimento do movimento pelo impeachment entre empresários, os Batistas nunca criticaram Dilma publicamente.
Protagonismo. Entre goles de whisky e mordidas de camarão no espeto, Joesley teria dito que gostaria de ajudar de alguma forma o movimento das ruas. “Em 2016, empresários, sindicatos patronais, movimentos sociais (MBL, Vem Pra Rua, Endireita Brasil, etc), muita gente queria o impeachment da Dilma. Uns contrataram carro de som, outros contrataram bandanas, pagaram por bandeiras, assessoria de imprensa. Teve gente que comprou camisa da seleção brasileira e foi pra rua. O Joesley estava nessa lista. Ele se ofereceu para custear o monitoramento digital nesta fase”, contou o marqueteiro.
O empresário perguntou então quanto custaria o serviço, que a princípio seria pago pelo PMDB nacional.
“R$ 300 mil”, respondeu Elsinho de pronto. “Eu pago isso. Vamos derrubar essa mulher”, teria dito Joesley.
Segundo o marqueteiro, o dono da JBS chamou então um mordomo e deu a ordem: “Pega lá R$ 300 mil e entrega para o Elsinho”. O dinheiro teria sido colocado em uma pasta e deixado no carro do publicitário.
Quanto questionou a melhor forma de emitir nota, o empresário teria desconversado. Disse que não queria deixar digitais no impeachment e o assunto ficou para depois.
Segundo Elsinho, uma das “maiores empresas” de assessoria de imprensa foi contratada para o serviço.
“Paguei quase R$ 200 mil para eles, R$ 60 mil de imposto e R$ 40 mil e pouco de lucro para mim”, disse.
O resultado serviu para monitorar movimentos pró-impeachment, o PMDB e a Fundação Ulysses Guimarães.
A nota teria sido feita então à revelia do Joesley.
Cinco meses depois da conversa, os dois voltaram a se encontrar. Elsinho achou que finalmente “seria testado” como publicitário de umas das empresas do grupo. Mas, de novo, a conversa iria por outro caminho.
“Ele disse que tinha um problema, que estava sem entrada no governo desde a queda de Geddel Vieira Lima e pediu marcar uma conversa. Ele queria um cúmplice”.
Procurada pela reportagem, a assessoria da JBS disse que “os atos cometidos pelos executivos foram informados à PGR e estão documentados nos autos da delação homologada pelo STF. A Companhia prossegue em seu firme propósito de colaborar com a Justiça brasileira.”/ COLABOROU VALMAR HUPSEL FILHO
PSdoViomundo: Os movimentos de Joesley são consistentes com os de outros empresários, pelo menos no discurso. Segundo o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ele encontrou nos corredores do Instituto Lula um dos donos da Globo, João Roberto Marinho, que fez a visita para sondar se Lula não seria o candidato do PT em 2014, substituindo Dilma.
Os marqueteiros do PT, João Santana e Monica Moura, também disseram em delação premiada que houve uma disputa surda nos bastidores entre Dilma e Lula para ver quem concorreria ao Planalto. Joesley também disse que comprou um punhado de votos contra o impeachment, mas pode ter sido apenas uma manobra diversionista, já que havia chance, ainda que mínima, de Dilma sobreviver.
Na indústria, a campanha do impeachment foi abertamente financiada por um pool de empresários sob o presidente corrupto da Fiesp, Paulo Skaf, que pagou filé mignon aos patos.
Resta saber quem pagou quanto aos que votaram pela derrubada de Dilma.
Tweets de Katia Abreu mostra que a mágoa com a JBS persiste: