Poluição tira vida de crianças
Dados mostram que 1,7 milhão morrem todos os anos por esse motivo
Muito mais do que um grande incômodo ou uma espécie de atentado à beleza de algum local, a poluição pode matar – e faz um número bem maior de vítimas do que muita gente imagina. Para se ter uma ideia desse cenário, de acordo com os dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,7 milhão de crianças menores de 5 anos morrem em todo o mundo por causa desse fator.
Conforme ressalta Carlos Augusto Mello, presidente do Departamento Científico de Toxilogia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os impactos nos pequenos são muito maiores por uma série de fatores. Um bebê de um ano, por exemplo, pode precisar de 140 ml de água por quilo diariamente, enquanto um adulto sobrevive com 15 ml por quilo no mesmo período de tempo. Além disso, as crianças também respiram mais: enquanto um bebê tem uma frequência respiratória de 40 movimentos por minuto, o número cai de 14 a 16 em um adulto. “Elas também se expõem mais. Ao contrário de um adulto, que anda em pé e costuma trabalhar sentado, a criança põe a mão na boca, terra etc”, diz Mello.
Junta-se a tudo isso, ainda, o fato de praticamente uma em cada sete crianças viver em áreas com os níveis mais tóxicos de poluição do ar exterior, que chegam a ser seis ou até mais vezes altas do que as diretrizes internacionais, de acordo com um relatório que foi divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). E os aspectos prejudiciais podem estar por toda a parte.
“Apesar de nos grandes centros urbanos existir muita poluição, ela não é exclusividade desses lugares. Às vezes, as pessoas acham que somente as crianças da zona urbana sofrem com esse mal. No entanto, em locais mais afastados também há esse tipo de problema, quando ocorre queima de carvão, de madeira, entre outras ações”, ressalta Claudia Andrade, pediatra, pneumologista infantil e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Consequências. Os problemas para as crianças podem começar muito cedo, até mesmo quando elas ainda estão na barriga da mãe. Como frisa Mello, as gestantes também não podem estar sujeitas a um ambiente insalubre, uma vez que isso, além de causar complicações para elas, pode afetar o bebê ainda por um bom período de tempo em sua vida.
E as graves consequências da poluição não estão relacionadas somente à morte. Como afirma o médico, ela pode até mesmo afetar o aprendizado dos pequenos. “Há casos em que as pessoas pensam que o desempenho escolar de uma criança é ruim. Mas uma exposição ao chumbo, por exemplo, pode levar ao comprometimento cognitivo. Então, a questão é que essa criança pode ter sofrido um dano por uma exposição tóxica, que prejudicou as sinapses dela e fez com que ela apresentasse dificuldades na hora de aprender”, explica o profissional.
Claudia ainda lembra que o comprometimento da qualidade de elementos do meio ambiente pode se relacionar também a casos de faringite, sinusite e de um número maior de crises de asmas, “o que pode levar as crianças a internações”, diz.