Emprego com carteira assinada cai pelo 3º ano consecutivo
País fechou 2017 com 20,8 mil vagas a menos, mas em 2015 e 2016 situação foi bem pior
No terceiro ano seguido com cortes no mercado formal de trabalho, o Brasil fechou 20.832 postos com carteira assinada em 2017, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nessa sexta-feira (26) pelo Ministério do Trabalho. Apesar do resultado negativo, o saldo do ano passado é melhor do que o registrado em 2015 (fechamento de 1,5 milhão de vagas) e em 2016 (encerramento de 1,3 milhão de postos de emprego). Nesses três anos de redução de postos de trabalho, o Brasil perdeu mais de 2,8 milhões de vagas com carteira assinada. No ano passado, foram registradas 14.635.899 admissões e 14.656.731 demissões no mercado formal brasileiro.
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Com o corte de vagas em 2017, o Brasil fechou o ano com um estoque de 38,29 milhões de empregos formais. Esse é o estoque mais baixo desde o fim de 2011, quando 38,25 milhões de pessoas ocupavam emprego com carteira assinada no país. Os dados do Caged também confirmam que a redução da taxa de desemprego geral no país acontece por causa do emprego informal e autônomo. Segundo o IBGE, a taxa, que era de 13,7% no início do ano, fechou em 12% no trimestre encerrado em novembro. O número de empregados sem carteira assinada chegou a 11,2 milhões no período, alta de 6,9% ante o mesmo período de 2016. Já o número de trabalhadores por conta própria somou 23 milhões de pessoas, alta de 5% na mesma comparação.
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Para Mário Magalhães, coordenador de estatística do Ministério do Trabalho, a partir de agora, o país vai voltar a gerar empregos formais. Essa, no entanto, era a expectativa do governo para 2017, o que acabou não ocorrendo. “Para nós, esse dado (resultado de 2017 do Caged) significa estabilidade de emprego. Nós tivemos oito resultados mensais positivos em 2017, ao contrário de 2015 e 2016”, disse Magalhães.
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O Ministério do Trabalho ressaltou que o resultado do mês passado é sazonal e não tem relação com a reforma trabalhista, que entrou em vigor em 11 de novembro. Nesse mês, o saldo foi negativo em 411 mil. Já em dezembro, o país perdeu 328 mil empregos com carteira assinada.
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Desempregada desde novembro de 2017, a administradora de empresas Priscila Cossenzo, 36, apostou na revenda de semijoias para complementar a renda. Apesar da mudança do emprego formal para a instabilidade do trabalho autônomo, ela já começa a ver futuro na nova função. “É complicado e exige muito de mim, mas tem valido à pena, pois ajuda no sustento da minha família”, explica. Ela conta que o que ganha com a revenda das mercadorias não chega a 70% do que recebia quando estava empregada formalmente, e que foi preciso enxugar alguns gastos para não fechar o mês no vermelho. “Precisei fazer um investimento muito alto no início, e foi preciso cortar salão de beleza, TV a cabo e telefone. Ainda não estou tendo lucro, mas as contas estão em dia”, diz.
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Já Bruno Santos, 31, sem oferta de emprego desde 2015, precisou virar trabalhador autônomo. Ele agora é taxista. “Foi uma saída, mas quando chega no fim de ano ou nas férias você percebe que os benefícios não existem mais”, diz. E não foi só o desemprego que fez a maquiadora Fernanda Rosa, 28, abandonar o diploma de engenharia de produção e seguir como trabalhadora informal. “Hoje, eu ganho mais do que quando trabalhava na área. Eu trabalhava numa função inferior e meu salário não era compatível ao do mercado”, garante a maquiadora, que pretende começar a pagar a previdência privada em 2018. (Com agências)
Minas contratou mais do que demitiu
Em Minas Gerais, a taxa de demissões e de contratações caminhou de forma parecida, com variação positiva de 0,19%, segundo os dados divulgados nessa sexta-feira (26) pelo Caged. Ao todo, foram 1.338.406 trabalhadores admitidos, enquanto 1.332.227 foram dispensados do trabalho formal.
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O setor que mais sofreu ao longo do ano, segundo o levantamento, foi o de Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUP), com queda de 2,52% no volume de admissões. Foram 4.590 contratações contra 5.460 demissões. A administração pública fechou o ano de 2017 com saldo positivo no número de contratações formais, já que 7.793 pessoas foram admitidas, enquanto 6.132 foram desligadas de seus empregos, uma variação positiva de 2,2%.
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Análise. Conforme o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Cesar Andaku, o número nacional apresentado pelo Caged era esperado e representa a retomada lenta, mas progressiva, da economia. “Alguns indicadores já mostram dados favoráveis, mas o mercado de trabalho é mais lento”, avalia. Segundo ele, o crescimento do emprego informal é um dos responsáveis pelo aquecimento econômico.
Trabalho escravo recua no ano
BRASÍLIA. Marcado pela tentativa do governo de esvaziar o combate ao trabalho escravo por meio de uma portaria que mudava conceitos e regras de fiscalização, o ano de 2017 terminou com 404 homens e mulheres resgatados de condições análogas à escravidão no Brasil. O número é 46% menor que o registrado em 2016, quando 751 pessoas foram retiradas da situação por auditores fiscais do Ministério do Trabalho. O maior número de resgates ocorreu em Mato Grosso (78), seguido por Pará (72) e Minas Gerais (68).