Kennedy: tragédia em SP é usada para criminalizar movimentos sociais
O jornalista Kennedy Alencar criticou na noite dessa terça-feria, 1º, o discurso de autoridades que usam o desabamento e incêndio do Edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo, para criminalizar os movimentos sociais.
“A demonização de movimentos sociais é uma prática antiga no Brasil, sobretudo de autoridades públicas que se omitem e desejam empurrar e minimizar responsabilidades, como a de fiscalizar e impedir ocupações de risco”, afirma; “Essa tragédia é responsabilidade do poder público, que não agiu a tempo de evitá-la”.
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01-05-2018, 19h41
Tragédia em SP é usada para criminalizar movimentos sociais
KENNEDY ALENCAR
BRASÍLIA
O Brasil tem o costume de tratar a questão social como caso de polícia. É preciso separar as duas coisas ao analisar o desabamento e incêndio do Edifício Wilton Paes de Almeida, que aconteceu hoje de madrugada em São Paulo.
A falta de habitação é um dos principais problemas sociais do Brasil. As pessoas que participam dessas invasões estão em situação de extrema vulnerabilidade social. Invadem quando já não têm como arcar com uma moradia minimamente digna. São pessoas que deveriam ser protegidas pelo poder público. Mais uma vez, as vítimas não deveriam ser responsabilizadas, como aconteceu hoje no espaço de selvageria que virou uma constante nas redes sociais.
Se o atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas, diz que havia temor de uma tragédia no prédio, isso mostra que autoridades públicas falharam e deveriam ser responsabilizadas. Se o ex-prefeito João Doria diz que uma facção criminosa era responsável por parte da invasão, ele deveria ter agido para resolver o problema.
É muito grave uma acusação que vincula movimentos sociais ao PCC (Primeiro Comando da Capital). Integrantes da prefeitura não confirmaram as palavras do antecessor de Bruno Covas. Além de leviandade e imprudência, falar isso agora é evidência de omissão em relação ao tempo em que Doria comandou a Prefeitura de São Paulo.
Essa tragédia é responsabilidade do poder público, que não agiu a tempo de evitá-la. A Defesa Civil da prefeitura, por exemplo, chegou a fazer vistoria no prédio e disse que não havia risco estrutural. Errou feio e tem responsabilidade.
Nas redes sociais, também houve, mais uma vez, tentativa de criminalizar movimentos sociais, especialmente o MTST (Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto). No caso do edifício Paes de Almeida, a invasão não era responsabilidade do MTST, mas sobraram cobranças para Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL à Presidência. Os movimentos sociais não deveriam ser criminalizados.
Se há exploradores da miséria humana, isso é caso de polícia. As autoridades devem investigar e punir. Devem apurar se eventuais pagamentos feitos pelos moradores de invasão são abusivos ou se são uma forma de cotização para pagar uma taxa mínima de manutenção.
Uma coisa é cobrar responsabilidade desses movimentos, que devem levar em conta os riscos de ocupar prédios inseguros e condenados do ponto de vista estrutural. Outra coisa é demonizar os movimentos sociais.
A demonização de movimentos sociais é uma prática antiga no Brasil, sobretudo de autoridades públicas que se omitem e desejam empurrar e minimizar responsabilidades, como a de fiscalizar e impedir ocupações de risco.
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Agir é preciso
A prioridade do prefeito Bruno Covas deveria ser mapear ocupações que correm o risco de repetir a tragédia desta madrugada no centro de São Paulo.
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Os desafios da candidatura presidencial de Alckmin, a alta competitividade de uma eventual chapa Ciro-Haddad para disputar o Palácio do Planalto e as manifestações deste 1º de Maio também foram temas de comentários no “Jornal da CBN – 2ª Edição”.