Eugênio Aragão: Judiciário vai ficar cada vez mais truculento
O ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão afirma que “a Justiça não está sendo séria” no caso de Lula e os membros do Judiciário devem ficar “cada vez mais truculentos”; “Como para o judiciário o voto popular não vale nada, ele tem que se apegar à sua autoridade. E toda tentativa de desnudá-lo é uma afronta à sua autoridade. Por isso eu acho que eles vão ficar cada vez mais truculentos”, analisa.
Aragão classifica também a proposta do TSE de formar uma comissão com jornalistas da mídia hegemônica para identificar o que são fake news como “perigosa”.
20 de Julho de 2018 às 18:09
TV 247 – O jurista e ex-ministro da Justiça do governo Dilma Eugênio Aragão concedeu entrevista à TV 247 nesta semana, discorrendo sobre as arbitrariedades de parcelas do Judiciário, ao comentar a perseguição ao ex-presidente Lula e a iniciativa recente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pretende regular o que é ou não notícia falsa durante as eleições.
Aragão classifica o episódio envolvendo o veto ao habeas corpus do ex-presidente Lula, no último dia 8, como “vergonhoso”. “Todo juiz, para ser independente, tem aquilo que a doutrina alemã chama de “competência da competência”, ou seja, se o juiz afirma que é competente no plantão, ninguém tem o direito de contestar o contrário”, defende, em referência à decisão do desembargador Rogério Favreto, do TRF4.
Ele explica também que, ao contrário das críticas que surgiram, havia, sim, fato novo em sua decisão, uma vez que a pré-campanha havia sido iniciada e a matéria sobre a permissão de Lula em gravar vídeos ainda não havia sido analisada pelo Judiciário. Ele diz ainda que a instância correta não deveria ser o STJ, como foi dito, uma vez que o processo estava com a juíza Carolina Lebbos, da Vara de Execução Penal, mas ela ainda não havia analisado. “Então a instância correta era o TRF4”, diz.
O ex-ministro explica qual trâmite jurídico seria o correto. “O habeas corpus deveria ser aplicado e Lula liberto. No dia seguinte, o processo seria encaminhado para o titular no caso, que poderia revogar o habeas corpus, colocando Lula na cadeia novamente”, esclarece. Aragão destaca que, apenas com Lula ocorre todo um estardalhaço para que ele permaneça encarcerado.
Aragão conta que, naquele domingo dia 8, Lula recebeu a notícia de que seria solto com extremo ceticismo. “O ex-presidente nem investiu sentimento na hipótese de ser liberto, ele sabe que a esperança dele encontra-se no julgamento das ADCs”, informa.
Ele segue desconstruindo as arbitrariedades do judiciário. “Se o Legislativo e o Executivo estão fragilizados, quem toma conta é o Judiciário, que é o único poder que não depende do voto popular, em função de o meio Jurídico estar se lixando para o que significa a soberania popular, pois a sua legitimidade é burocrática, vem de concursos públicos ou indicações políticas“, critica.
O ex-ministro afirma que “a Justiça não está sendo séria” no caso de Lula e os membros do Judiciário devem ficar “cada vez mais truculentos”, “quanto mais se exibem as entranhas” do poder. “Como para ele o voto popular não vale nada, ele tem que se apegar à sua autoridade. E toda tentativa de desnudá-lo é uma afronta à sua autoridade. Por isso eu acho que eles vão ficar cada vez mais truculentos”, acredita.
Sobre o juiz Sérgio Moro, Aragão dispara: “ele não é esse gênio que apontam, na verdade eu o considero um oportunista, ele é medíocre no que diz respeito aos seus escritos, seu Currículo Lates é de uma pobreza franciscana, não se trata de um agente da CIA, mas sim de um inocente útil“.
Fake news
O TSE propôs formar uma comissão com jornalistas da mídia hegemônica para identificar o que é fake news. Aragão classifica a iniciativa como uma agenda pessoal do ministro Luiz Fux, que preside a Corte.
“Entregar para o Judiciário o poder de deliberar o que é ou não fake news acaba sendo um perigo enorme à liberdade de imprensa, até mesmo porque o maior formador de notícias mentirosas é a grande mídia“, conclui.
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Camponeses se formam em direito para mudar a cara da justiça
Como resposta ao elitismo e conservadorismo do poder judiciário brasileiro, 37 assentados concluíram a graduação em direito; isso graças ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera); depois dos julgamentos partidarizados que se seguiram à Operação Lava Jato, marcados pela perseguição a lideranças importantes da esquerda, os camponeses reforçaram a ideia de ocupar os espaços do judiciário como forma de distribuir melhor a leitura da justiça com relação aos diretos sociais.
23 de Julho de 2018 às 07:07
247 – O poder judiciário brasileiro, historicamente elitista, é caracterizado pela falta de representação popular e pela frequente criminalização dos movimentos populares. Os julgamentos partidarizados que se seguiram à Operação Lava Jato, marcados pela perseguição a lideranças importantes da esquerda, mancharam ainda mais a reputação do Judiciário junto à população brasileira. É neste contexto que 37 assentados concluíram a graduação em direito, graças ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).
O sonho desses camponeses é de atuar como advogados populares e também de seguir a magistratura. A colação de grau da turma – terceira a se formar no curso pelo programa – ocorreu neste sábado (21), na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia.
“Um dos formandos é Aldenir Gomes da Silva, de 29 anos, que cresceu no Assentamento Palmares II, no município de Nina Rodrigues, no norte no Maranhão. Agora, graduado em direito, ele avalia o desafio atuar neste contexto. ‘A nossa turma se forma em um cenário muito emblemático, muito difícil e de muitas contradições, de criminalização dos movimentos sociais. Para gente, é um desafio muito grande. A gente vê a forma como está sendo tratada nossa Constituição, o direito trabalhista… A gente estuda diante de uma contradição muito grande no campo jurídico’, afirma.
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Aldenir relata que, quando criança, o direito nunca esteve nos seus planos por causa da elitização do curso.’Tive um certo anseio [de fazer o curso], mas o direito chegou de uma maneira inusitada até porque eu considerava uma questão distante. Estudar direito para filho de assentados, no campo, é uma dificuldade muito grande’, conta o estudante. ‘É um sonho, mas é um sonho coletivo. É um sonho pessoal, da família, mas, sobretudo, coletivo da classe trabalhadora’.”