O termômetro Alckmin e as interferências dos tribunais, por Luis Nassif
Um dos grandes condicionantes para a atuação dos tribunais superiores é a situação do candidato do PSDB Geraldo Alckmin. Ele é o continuador direto do golpe do impeachment, a grande esperança branca de manutenção do governo Michel Temer, expurgado da quadrilha que o acompanhou ao poder e da Ponte para o Futuro.
Se Alckmin não tiver chance, o jogo ficará reduzido a Lula-Fernando Haddad e Bolsonaro. E aumentará a probabilidade de uma nova intervenção do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do STF (Supremo Tribunal Federal), secundados pela Procuradoria-Geral da República.
Mais do que nunca está nítido que os tribunais definem politicamente a sentença e, depois, vão atrás da fundamentação. Foi assim com Paulo Maluf, quando em 2014 se candidatou a deputado federal. O plenário do TSE entendeu que o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou Maluf pelas obras do túnel Ayrton Senna por “ato culposo”, e não “ato doloso”.
De qualquer forma, se Alckmin for o termômetro, aumenta a possibilidade de um ato de força do TSE, impugnando a candidatura do PT, com Lula ou com Haddad, especialmente após a última pesquisa CNT-MDA.
Entre as duas pesquisas, enquanto Lula subiu 4,9 pontos e Bolsonaro 2,1, Alckmin subiu apenas 0,9 ponto. Ou seja, não está conseguindo ganhar os eleitores que definem seu voto.
Confira, primeiro, a progressão do desempenho de Alckmin no 2º turno, comparando as pesquisas de maio de 2018 e agosto de 2018.
Contra Lula – a diferença em favor de Lula aumentou de 25,3 para 29,1 pontos.
Contra Bolsonaro – a diferença caiu de 7,6 para 3,0 pontos.
Contra Marina Silva – caiu a 7,7 para 2,8.
Contra Ciro Gomes – aumentou de 0,5 para 3,3.
Na pesquisa sobre em quem os eleitores votariam ou não votariam em nenhuma hipótese, Alckmin consegue a desaprovação de mais de metade dos entrevistados. Consegue bater até o Henrique Meirelles, apesar deste ser beneficiado pelo baixo conhecimento junto à população.
A pesquisa analisou o potencial de cada candidato – consistindo na comparação entre a soma dos que votariam ou poderiam votar no candidato versus os que não votariam em hipótese alguma.
Nesse quesito, Alckmin só é superado pelo campeoníssimo Henrique Meirelles e por Bolsonaro. Aliás, o único candidato com índices positivos acima de 50% é Lula.
Finalmente, a cada nova pesquisa aumenta a diferença entre Alckmin e Lula, segundo o Datafolha. Aliás, a próxima pesquisa, esta semana, deverá acentuar ainda mais a diferença
O discurso liberal de Alckmin esbarra, também, na falta de cuidados histórica (desde FHC) em tentar legitimar o modelo. É interessante a comparação entre as duas bandeiras: a das privatizações e a dos privilégios dos servidores públicos e políticos, mostrando como Brasília está distante do Brasil.
Agora à noite saiu a pesquisa do IBOPE confirmando a diferença em favor de Lula.
Por tudo isso, esta semana ainda o PT deverá registrar oficialmente Fernando Haddad como candidato, para impedir uma tentativa de impugnação da chapa toda, que já se desenha.
Na pesquisa IBOPE, o Estadão publica uma tabela com o potencial de transferência dos votos de Lula. Segundo a tabela, 60% não votariam em Haddad, 14% poderão votar e 13% votarão com certeza. O jornal não esclarece se a pesquisa foi com todos os eleitores ou apenas com aqueles que votariam em Lula. Sendo com todos, o percentual de Haddad vai a 27%.
Duas incógnitas:
- O poder de transferência de voto de Lula para Fernando Haddad. Na pesquisa IBOPE, sem Lula Haddad aparece com 4 pontos. Mas provavelmente o eleitor não foi informado que Haddad será o candidato de Lula.
- O poder do horário gratuito, rádio e TV, somado à campanha maciça da mídia em favor de Alckmin. Para analistas políticas, como Alberto Almeida, esse somatório deverá acelerar a votação de Alckmin e garantir o segundo turno.
- Para o primeiro turno, o percentual de votos válidos é de apenas 48% na pesquisa CNT/MDA e 47% na do IBOPE.