247 – Diplomata de carreira e ex-embaixador do Brasil em Washington, o ex-ministro Rubens Ricupero questiona as motivações do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para se alinhar com os Estados Unidos, em contraposição à China. Para ele uma “ideologia tosca e mal tralhada” pode prejudicar o Brasil na relação com outros países a partir do próximo ano, informou reportagem do UOL.
Embaixador do Brasil em Washington entre 1991 e 1993, ele comandou os ministérios da Fazenda e Meio Ambiente durante o governo Itamar Franco (1992-1994).
“Nós devemos ter as melhores relações possíveis com EUA e China, mas sem tomar partido na rivalidade estratégica entre os dois. A causa dessa briga é os EUA querendo permanecer dominantes na Ásia, e isso não é nosso problema. Deve haver pragmatismo para perceber que o interesse brasileiro é comercial, de atrair investimentos dos dois lados”, defende.
Segundo ele, a ideia de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém – defendida por Bolsonaro, meses após Trump ter feito o mesmo com a sede diplomática dos EUA em Israel – “É uma ideia que não tem nenhuma justificativa racional” e que “só vai nos causar danos”.
“É muita ideologia, uma ideologia tosca, mal trabalhada. Qual a razão comprar briga de Israel? De atacar o Irã? O Irã e os países árabes em conjunto representam 49% da importação de carne de frango e boi“, ressalta.
De acordo com Ricupero, a ideologia do novo governo “importou coisas dos EUA com sotaque inglês”. “Nem sequer tomaram cuidado de adaptar para uma roupagem brasileira”, acrescenta.
O ex-ministro também diz esperar que o novo chanceler, Ernesto Araújo, “não seja marginalizado” e que o Itamaraty continue a ter um papel central no governo.
Em seguida, ele criticou a viagem de Eduardo Bolsonaro aos EUA. “Não ouve contato com a embaixada do Brasil em Washington, e isso é muito preocupante. A embaixada representa oficialmente nosso país, então um cidadão, mesmo que um deputado, que tem contato com autoridades americanas à revelia da embaixada não está representando a política oficial do Brasil.”