Brasil (1500-2019): País regride 50 anos em 3 meses e coloca em risco o futuro
Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia
Os “bons tempos de 50 anos atrás” estão de volta, como Jair Bolsonaro prometeu durante a campanha.
Estão de volta as ameaças à liberdade, ao Estado de Direito, à independência entre os poderes, às conquistas civilizatórias, ao nosso futuro como nação.
Em apenas três meses da nova ordem, retrocedemos aos tempos em que imperava o medo e os quartéis mandavam no país.
Agora de braços dados com os togados, os fardados dão as ordens e aos demais cabe obedecer.
A cada dia fica mais claro que o capitão reformado foi apenas um laranja utilizado pelos generais para voltar ao poder, 55 anos depois do golpe de 31 de março de 1964, que eles vão comemorar neste domingo, a pedido do presidente.
No grande laranjal em que o país se transformou, os funcionários fantasmas dos gabinetes da família imperial são apenas um detalhe da esculhambação geral.
Nem a agenda oficial do presidente é mais divulgada, como mostra reportagem do Estadão publicada nesta quinta-feira e seus compromissos públicos agora são considerados privados.
Virou um presidente fantasma que foge das universidades e se refugia nos quartéis, visita empresários amigos e adia decisões urgentes para tirar o país do buraco.
Ao negar a ditadura militar e defender o golpe e seus agentes, que prenderam, torturaram e mataram impunemente por mais de 20 anos, o capitão aposta no caos, para jogar a população contra os outros poderes e se apresentar como o salvador da pátria amada, salve, salve.
Cada vez mais perdido no espaço, sem saber o que está fazendo na Presidência da República, arrumou uma briga cretina com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que fez a Bolsa desabar e o dólar disparar, para alegria dos especuladores que bancaram sua campanha eleitoral.
É tão sem noção que chamou hoje a crise entre o governo e a Câmara de “chuva de verão”, em pleno outono, compara ditadura com casamento e mistura questões políticas com problemas pessoais de seus inimigos imaginários.
Seus dois “superministros”, Guedes & Moro, já viraram “funcionários do Bolsonaro”, cada vez mais fracos e desmoralizados pelo próprio partido do governo e seus articuladores políticos.
Enquanto um exército de grandes empresários se reunia em São Paulo com o general Mourão, o vice cada vez mais bonachão e popular, a Câmara impunha outra fragorosa derrota ao governo com o orçamento impositivo, que o deixou de pernas e braços amarrados.
Como se nada estivesse acontecendo e voasse em céu de brigadeiro, completamente fora da realidade, o capitão está mais preocupado em preparar sua viagem a Israel, no mesmo domingo das comemorações golpistas, promessas de mais confusão no horizonte.
A reforma da Previdência já saiu das manchetes para dar lugar ao bate-boca colegial entre os presidentes da República e da Câmara, que vai descendo ao nível da sarjeta.
Multidões de trabalhadores miseráveis formam filas todos os dias em busca de empregos de salário mínimo, mas os donos do poder não estão nem aí, distribuindo medalhas uns aos outros em eventos oficiais, batendo continência e sorrindo uns para os outros.
Não é só o presente que eles estão destruindo, mas o futuro das novas gerações, com o Ministério da Educação sendo demolido a golpes de marreta ideológica e muita incompetência.
519 anos depois da chegada das primeiras caravelas, o Brasil vai sendo enterrado aos poucos, sem choro nem vela, sob o alto comando do baixo clero agora no poder central.
Vida que segue, por enquanto.
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