
01-02-2017, 9h26
Expor corrupção do Judiciário justificaria delação do casal Cabral
KENNEDY ALENCAR
SÃO PAULO
Apesar de parecer estranha à primeira vista, faria sentido uma eventual delação premiada do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e da mulher dele, Adriana Ancelmo.
A Lava Jato e as operações que são desdobramentos dela, como a Eficiência, descobriram muitos casos de corrupção da classe política. Há um foco nos poderes Executivo e Legislativo.
No entanto, não se sabe, com exceção de algumas revelações pontuais, como se dá a corrupção no Poder Judiciário. Nesse contexto, uma delação do peemedebista combinada à de sua mulher, advogada que transitou com desenvoltura no Judiciário, poderia trazer informações relevantes a respeito de como a corrupção age entre os três poderes da República.
A Lava Jato pretende passar o Brasil a limpo. Portanto, também é o caso de fazer isso em relação ao Judiciário.
O casal Cabral poderia dar informações sobre ministros de tribunais superiores em Brasília e a respeito de magistrados do Rio de Janeiro, especialmente do Tribunal de Justiça do Estado. Também poderiam fornecer material para investigar autoridades do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro e até integrantes do Ministério Público estadual.
Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo poderiam causar dano forte a outros políticos do PMDB do Rio. A relação com grandes grupos econômicos empresariais também poderia ser investigada.
Portanto, a análise de uma eventual delação do casal Cabral tem interesse público. Isso deveria ser levado em conta pelo Ministério Público Federal e Justiça Federal.
Pelo que se descobriu até agora, dificilmente Cabral se livraria de uma pena significativa em regime fechado, mas poderia atenuar essa punição. Nos bastidores, também se diz que há uma expectativa dele de obter maiores benefícios para a mulher, como uma prisão domiciliar.
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Política no STF
Nos últimos dias, as conversas de bastidor no STF indicaram que a saída mais provável para escolher o novo relator da Lava Jato na corte seria realizar um sorteio entre integrantes da Segunda Turma, aquela à qual pertencia o ministro Teori Zavascki. O pedido do ministro Edson Fachin para mudar da Primeira para a Segunda Turma reforça a percepção de que ganhou musculatura um entendimento interno nesse sentido.
Logo, parece menos provável que o sorteio se dê entre todos os atuais ministros, com exceção da presidente do Supremo, Cármen Lúcia. No entanto, como o STF tem tomado decisões em que muitas vezes prevalece uma avaliação mais política do que jurídica, é prudente aguardar o desfecho.
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