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Falta de recursos para submarino nuclear deve levantar militares contra governo Temer.

Falta de recursos para submarino nuclear deve levantar militares contra governo Temer

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Expectativa de Sérgio Rezende, ministro da Ciência e Tecnologia de Lula, é de que comando da Marinha – e também da Aeronáutica – reajam a atrasos nos programas que afetam o setor
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por Cida de Oliveira, da RBA publicado 07/02/2017 10h07
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Submarino com propulsão nuclear foi concebido em meados de 2013. Projeto básico foi concluído em janeiro passado (foto divulgação).

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 São Paulo – A insuficiência de recursos que afeta seriamente projetos em ciência, tecnologia e inovação prejudica também ações da Marinha e da Aeronáutica. Entre elas, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), cujos atrasos e adiamentos na conclusão de etapas devem culminar no acirramento de ânimos entre o governo de Michel Temer (PMDB) e os militares. E o programa espacial brasileiro, ainda limitado ao lançamento de satélites.

A expectativa é do professor Sérgio Rezende, do programa de pós-graduação em Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ministro da Ciência e Tecnologia entre 2005 e 2010, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

“A informação que eu tenho é que está tudo paralisado. Não houve mais liberação de recursos, infelizmente. A queda nos repasses começou ainda no governo Dilma. No atual governo, isso nem se fala. Está tudo largado”, afirmou Rezende.

Conforme destacou, um reator nuclear moderno é um instrumento muito importante para o setor. “Em 2010, aprovamos projeto liderado pelo Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) para construir o reator, em Aramar, no interior de São Paulo, onde se faz centrífugas para purificação do urânio. Liberamos R$ 50 milhões para começar a fazer. O reator nuclear é importante para testar materiais que seriam usados em submarinos, mas isso está parado”, disse.

As estimativas são de o governo já gastou mais de R$ 13 bilhões para executar pouco mais da metade (60%) das obras.

De acordo com o ex-ministro, outra área sensível à redução de investimentos é o programa espacial, desenvolvido em conjunto com a Aeronáutica, que também está parado. “Vai chegar um momento em que ela começará a reagir. A aeronáutica reagindo, a Marinha reagindo, isso vai causar um ‘efeito na cabeça’ do governo atual. Isso vai produzir efeito nos militares, porque a Marinha vai mostrar o prejuízo de interromper um projeto como esse.”

O grupo Odebrecht, envolvido na Operação Lava Jato, tem participação no Prosub. Embora prefira não opinar sobre a interferência da operação no projeto, Rezende destacou que “as pessoas que estão à frente do processo” não têm noção do que é importante ou não para o Brasil.

“Combater a corrupção é muito importante, mas acabar com a empresa? A Justiça demora para tomar decisões ou toma decisões equivocadas para fazer com que a empresa pague da forma que tem de pagar, com multa ou acordo de leniência, para que possa voltar a funcionar.”

Ele criticou ainda a entrega de papéis relativas à Odebrecht ao departamento de Justiça dos Estados Unidos, levantando outras questões e levando a punições em vários países. “Quando é que os Estados Unidos iriam entregar uma empresa importante sua para outro país? A Lava Jato está fazendo isso. Uma das coisas pelas quais o PIB não cresce é porque grandes empresas estão quase paralisadas. Com a desculpa de combater a corrupção estão aniquilando o sistema empresarial brasileiro”, advertiu.

Cortes

A Marinha, no entanto, negou que o orçamento de 2017 afete o Prosub. Por meio da assessoria de imprensa da Marinha, o contra-almirante Flávio Augusto Viana Rocha informou que as ações orçamentárias aprovadas para 2017 permitem cumprir as etapas planejadas para este ano.

Afirmou ainda que os cortes orçamentários de 2015 reduziram o ritmo das obras do Estaleiro de Manutenção (ESM) e da Base Naval. E que para não prejudicar o processo de construção dos submarinos convencionais, foi dada prioridade ao ESC e ao Ship Lift – um elevador de navios –, que devem estar prontos para o lançamento ao mar do primeiro submarino convencional, o S.Riachuelo, previsto para 2018.

Ao jornal GGN, entretanto, Viana Rocha informou que, terminada a concepção do submarino de propulsão nuclear há mais de três anos, atrasos em outras estruturas e a queda de 50% do efetivo da Odebrecht deixam incertezas na expectativa de conclusão. “A Marinha do Brasil admite que a crise, que assola a empreiteira e os investimentos do governo, é um desafio”, disse ao jornal.

Criado em dezembro de 2008, o Prosub consiste na construção de uma infraestrutura industrial e de apoio para construção, operação e manutenção dos submarinos, a construção de quatro submarinos convencionais, e o projeto e construção do primeiro submarino com propulsão nuclear brasileiro. Além disso, segundo a Marinha, tem entre os objetivos a capacitação técnica em projetos e construção de submarinos, permitindo ao país desenvolver de forma autônoma novas tecnologias, nacionalizando sistemas e equipamentos com ganhos para a indústria nacional.

A implantação da infraestrutura e de apoio aos submarinos inclui a construção da Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (UFEM), de dois Estaleiros e uma Base Naval, um Centro de Instrução e Adestramento para as tripulações dos submarinos, além de um complexo radiológico, em Itaguaí-RJ. As obras na UFEM, no Prédio Principal do Estaleiro de Construção (ESC), no Pátio de Manobra de Submarinos e em alguns berços de atracação do cais principal e auxiliar já foram concluídas.

O ESC e o Elevador de Navios estarão entrarão em funcionamento ainda este ano. Estão em construção, também, o prédio de ativação de baterias do ESM e o prédio dos simuladores do Centro de Instrução e Adestramento. Até o momento foram realizadas mais de 63% das obras, segundo o contra-almirante.

O submarino convencional S-BR1 (S. Riachuelo) já tem concluídas todas as seções do casco resistente, montadas na Nuclep e transferidas para a UFEM, sob a responsabilidade da empresa Itaguaí Construções Navais (ICN), criada especificamente para a construção dos submarinos. Serão então fabricadas as estruturas não resistentes, suportes e tubulações até a transferência das seções para o ESC, onde serão feitos o acabamento, os testes e lançamento ao mar previsto para julho de 2018, com três anos de atraso. Após cerca de dois anos de testes de porto e de mar será transferido ao setor operativo da Marinha.

O S-BR2 já tem prontas as seções do casco resistente. Assim como ao primeiro S-BR1, a fabricação das estruturas não resistentes já está em curso.

Iniciada em janeiro de 2015, a construção do S-BR3 teve sua primeira seção finalizada em janeiro passado. As demais seções serão entregues até o final do ano.

E o S-BR4, construído a partir de fevereiro do ano passado, com o corte da primeira chapa que deu origem às primeiras cavernas da estrutura do casco resistente.

Obstáculos

O submarino com propulsão nuclear (SN-BR), principal projeto deste complexo programa de desenvolvimento, foi concebido em meados de 2013. O projeto básico foi concluído em janeiro passado, quando já deveria estar pronto. Está previsto para este ano o detalhamento das fases de construção. A seção de qualificação do SN-BR deve ter início em 2018, com o lançamento do submarino previsto para 2027. Sua entrada em operação está prevista para 2029.

Segundo especialistas, o reator nuclear está ainda em fase muito embrionária de desenvolvimento. Pelas dimensões continentais, o Brasil deveria ter pelo menos 30 submarinos, mas tem apenas cinco, convencionais.

No entanto, a “Marinha tem consciência dos obstáculos tecnológicos que surgirão e terão que ser vencidos em função da situação econômica do País. O cronograma passa constantemente por criteriosa análise de forma a se adequar ao orçamento disponível e refletir as perspectivas futuras da economia e a necessidade de vencer os diversos obstáculos que estão por vir.”

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