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Brasil passa por momento de desmonte industrial e político, com perda referencial do poder, diz consultor de empresas estrangeiras no Brasil.

Desmonte e perda de referencial no poder brasileiro

País vive nova ordem institucional, com raízes mais recentes do Plano Real, avalia André Araújo em entrevista no Sala de Visitas.
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Jornal GGN – As origens do desmonte industrial e político mais recentes no país estão atreladas ao vácuo de poder que se abriu no Brasil, com o enfraquecimento dos partidos e do Executivo, e as sementes que deram sustentação à perda de credibilidade dos setores puramente políticos foram plantadas ainda durante a implementação do Plano Real (1994).
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“Esse capital político, dos economistas do chamado mercado, foi criado no Plano Real, que foi um plano 100% montado por economistas. Até então [essa classe] não tinha poder”, explica André Araújo, em entrevista para Luis Nassif, no programa Sala de visitas.
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O colunista do GGN e consultor de empresas estrangeiras no Brasil e do International Republican Institute (IRI), braço externo do Partido Republicano norte-americano, completou a explicação lembrando que, apesar do sucesso do Plano Real não ter sido pleno, afinal “só consertou a parte gráfica da moeda, sem consertar as razões por que havia a inflação”, o equilíbrio que conseguiu, após anos de tentativa dos governos anteriores, beneficiou politicamente os economistas ligados ao sistema financeiro.
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Daquele momento histórico em diante, Araújo destacou que se criou no país uma geração de economistas ligados às escolas com a formação monetarista, influenciadas pelas teorias desenvolvidas nos Estados Unidos dos anos 1990.
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O problema, rebate o consultor, é que foram “ideias fundamentalistas e ortodoxas que, hoje, já estão superadas nos Estados Unidos”. Ainda assim, são eles, os economistas ligados ao sistema financeiro e que, portanto, dificilmente contestam o mercado, que têm ocupado postos abertos pelos governos.
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Paralelo ao fortalecimento dos economistas de mercado, atuantes em cargos que vão de bancos públicos, Banco Central, ao Ministério da Fazenda, Araújo apontou que ocorreu um enfraquecimento do poder dos partidos e do Executivo.
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“O poder é assim: quando um ganha outro perde, ele não é impossível de ser desmontado”, frisou completando que, o vácuo de poder não foi preenchido apenas pelos economistas de mercado, mas também por setores do judiciário e a mídia oligopolizada.
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Ao fazer uma comparação com a estrutura de poder político no Brasil, dos anos 1950 e 1960, Araújo destacou:
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“O Judiciário, incluindo o Ministério Público, e a mídia, sempre tiveram um papel no poder [nas décadas passadas], mas nunca na escala que estão tendo hoje. A mídia [em especial] é o jogador do poder, tem cartas na mão que podem derrubar ministros, com certa facilidade. [Poder] que no passado era menor”, destacou ao lembrar, por exemplo, de Executivos mais fortes no país, como do governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), que teve ministros pouco amigáveis à imprensa, dentre eles Armando Falcão, ex-Ministro da Justiça e das Relações Exteriores, que sempre respondia com um “nada a declarar” às perguntas dos jornalistas.
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Ou ainda Delfim Netto: “[Nos anos dele como Ministro da Fazenda] se falava de pacote da meia noite, que ninguém sabia o que iria ser feito, o que iria aparecer. Havia o real poder da máquina pública, do centro do poder econômico do país. Isso foi perdido. Hoje, o Ministério da Fazenda e o Banco Central são terceirizados ao mercado, dados em penhor”, completou.

Araújo achou pertinente destacar também que a fragmentação política brasileira se acelerou a partir da Constituição de 1988. Apesar da construção feita em bases democráticas, a Carta Magna aumentou, por exemplo, a autonomia do Ministério Público.
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Quanto ao mundo puramente político, dentre os partidos que surgiram daquele período – PT, PMDB e PSDB-, Araújo lembrou que o primeiro sofre atualmente uma crise de credibilidade e destruição de imagem. O antipetismo atingiu, praticamente, todos os setores da sociedade. O PMDB se desenvolveu em cima do fisiologismo político, onde as decisões são tomadas em troca de favores e favorecimentos. Já o PSDB nunca conseguiu consolidar uma identidade própria.
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“O partido tucano é muito dividido internamente, não tem uma ideologia muito clara. Ao contrário do que se fala, de que eles são neoliberais, eu não vejo consistência doutrinária. Eles se engajaram no neoliberalismo porque era da moda daquele tempo [durante o governo Fernando Henrique Cardoso], mas não é uma questão doutrinária do partido, que deveria ser uma espécie de Social Democracia europeia tropicalizada”, destacou o consultor, retomando o princípio pregado quando o PSDB foi criado.
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Para André Araújo, hoje o partido dos tucanos “está cada vez mais parecido com o PMDB”: “Tem diferenças no estilo, na moldura, na forma de se falar [entre os dois partidos], os tucanos são mais finos, mas a consistência doutrinária é fisiológica”, pontuou.
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Assim, o Brasil chegou em um cenário onde o mercado mantém ou derruba governos, alinhando-se aos interesses de uma mídia oligopolizada e de um setor do judiciário contaminado pelo poder.
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Falta de empreendedores referenciais 

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Mas não foi somente no mundo político que o Brasil perdeu seus referenciais. Luis Nassif questionou André Araújo sobre a falta de estadistas entre os empresários no país, lembrando de nomes importantes que ajudaram a desenvolver o Brasil desde os anos 1940, dentre eles Guilherme Silveira, Moreira Sales, Ermínio de Morais e os Klabins.
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Para Araújo essa questão está ligada ao enfraquecimento de uma estrutura de classe que represente os empreendedores brasileiros. Na verdade, adiantou ele, já não existem grandes produtores brasileiros ocupando as cadeiras em associações como Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
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“Nos anos 1970, por exemplo, havia uma cooperação muito direta das associações com o governo. Havia uma necessidade dos Ministros saberem como estava a produção. Em um dos almoços anuais da ABINEE, em 1974, havia 11 ministros de estado, e não era nem Fiesp”, relembrou Araújo que também foi um dos fundadores da Associação Brasileira da Industria Eletroeletrônica (ABINEE) e, por 16 anos, diretor tesoureiro do Sindicato Nacional da Indústria Eletroeletrônica (SINAEES).
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Os empresários e empreendedores que compunham as associações da classe patronal de outrora deram lugar a diretores executivos (os CEOs). Os primeiros, conscientes de que, para o negócio ir bem, o país tinha que estar bem. Já os segundos, apenas pagos pelo mercado para fazer seu papel, jamais dispostos a se arriscar politicamente. Afinal, da mesma forma que trabalham hoje no Brasil, em caso de crise, podem amanhã se mudar para o México, ocupar a direção de outra companhia.
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O que dizer então do presidente de associação que resolveu virar político? Completou Luis Nassif, fazendo referência a Paulo Skaf.
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O presidente da Fiesp entrou nos noticiários policias da Lava Jato por não ter declarado em suas contas de campanha ao governo do estado de São Paulo pelo PMDB, em 2014, doações recebidas da Odebrecht. A informação foi levantada pelo ex-diretor de relações institucionais da empreiteira, Cláudio Melo Filho que, em delação premiada, afirmou ter acertado a entrega de R$ 10 milhões, em um jantar no Palácio do Jaburu, com o presidente Michel Temer, sendo R$ 6 milhões destinados à campanha de Skaf.

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