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Julgamento TSE chapa Dilma-Temer: Para deputados, permanência de Temer é o pior dos cenários; Edição falsa de O Globo circula por SP e anuncia renúncia de Temer.

Eduardo Maretti, da RBA O julgamento de cassação da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer, com início marcado para a próxima terça-feira (4) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é imprevisível. Independentemente dos aspectos jurídicos e apesar da complexidade da crise política, a permanência de Temer é o pior dos cenários, segundo deputados da oposição.

“Não é uma discussão simples”, diz a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). “Mas a pior situação de todas hoje é a permanência do Temer. Ele está pagando o golpe. Então, está cumprindo uma agenda que, numa mudança política, pode ser interrompida, porque a cassação fragilizaria o processo.”

Porém, a parlamentar diz que a avaliação do cenário está longe de ser tranquila. Tanto que o PCdoB vai discutir o tema em reunião no próximo fim de semana. Se, por um lado, a esquerda espera que Temer perca o mandato,  por outro há as implicações sobre a situação de Dilma Rousseff, por exemplo.

Dilma, assim como o atual chefe do Executivo, pode perder ou não seus direitos políticos. A tese da separação da chapa – um dos argumentos da defesa de Temer – pode ser acatada ou rejeitada. As contas de Dilma e Temer serem julgadas separadamente poderia ser uma tese indefensável, se apenas aspectos jurídicos estivessem em questão. Nesse caso, “seria um despropósito, nesse momento, o TSE mudar sua orientação jurisprudencial”, afirma o deputado federal Wadih Damous (PT-RJ).

É o que a defesa de Dilma alega: a campanha teve apenas uma prestação de contas e a separação da chapa é contra a jurisprudência do tribunal.

Jandira enfatiza que a cassação de Temer pode refletir no futuro da ex-presidenta. “Eu não sou a favor da perda de direitos políticos da Dilma, o que pode acontecer. Tem que ter muito cuidado com isso, porque uma cassação desse tipo tem consequências políticas sérias. Tudo tem que ser muito bem pesado”, avalia a deputada.

Damous afirma esperar que o mandato de Temer seja de fato cassado. “Mas o meu esperar, aí, é sinônimo de desejar”, acrescenta. E não há como prever o julgamento no TSE, dado seu caráter político.  “Pode acontecer tudo. Cassação, pedido de vista, a divisão da chapa.”

Desdobramentos

Seja como for, os desdobramentos do processo, na opinião de Jandira Feghali, dependem das alternativas políticas dentro do próprio núcleo que comandou o impeachment. Nomes como o do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e de Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa e do próprio STF, são apenas dois dos que são ventilados entre políticos em Brasília para suceder Temer em eleição indireta no Congresso, caso ele seja cassado.
“São várias as pessoas se colocando, e já faz tempo. O problema é quem unificaria a maioria das forças do núcleo ideológico deles. A decisão tem o aspecto jurídico, mas vai depender muito das alternativas que se apresentem. Se unificam ou não essas forças”, diz a deputada do PCdoB fluminense.

Jandira lembra que os mais próximos auxiliares de Temer no Planalto são alvos de denúncias e citações na Lava Jato, como o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Moreira Franco, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha e o próprio Temer. Com tudo isso, “eles sabem que Temer não tem força para garantir a agenda até o fim”, avalia.

“Mas vai entrar alguém que vai ter?” Essa é outra previsão impossível no momento. Para a deputada do PCdoB, o fato é que uma mudança explosiva como a provocada pela cassação de um mandato presidencial “muda também a conjuntura, e quando muda a conjuntura muda tudo”. Mas há uma ressalva: “a gente não sabe que acordos estão sendo construídos”. E uma certeza: “tirar o Temer, para o Brasil, é muito importante. O Temer hoje comanda uma agenda impossível de ser sustentada”.

O fim do mandato do peemedebista poderia interromper essa agenda, dependendo de quanto o fim do governo Temer enfraqueceria o processo desencadeado com sua ascensão ao poder. “Mas isso também depende de quem entraria no lugar dele e com que acordos”, diz a parlamentar.

Dentro do Congresso, Wadih Damous afirma não ver grande mobilização pró-Temer. “Está todo mundo imerso nas suas pequenas misérias, já pensando em se reeleger em 2018. Não há uma adesão maciça aos projetos que ele mandou (ao Legislativo).”

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Brasil de Fato Circula em diversos pontos da cidade de São Paulo, uma edição polêmica do jornal O Globo. Além de manchetes como: “Temer renuncia: eleições convocadas” e “Deputados federais receberão salário mínimo”, a publicação critica uma provável anuência de um dos principais jornais do país com o golpe de 1964, que destituiu o presidente João Goulart e instaurou, em 1º de abril daquele ano, um governo militar no país.

Em seu editorial, o jornal pede “perdão” por sua participação nos eventos de 1964 e pela recente destituição da presidenta Dilma Rousseff: “Diz o ditado: errar é humano. Incorrer no mesmo erro sinaliza. O Globo pede desculpa aos leitores e a toda sociedade brasileira”, inicia o texto.

O texto do editorial ainda aponta: “Em 1964 apoiamos o Golpe Militar, o regime dos generais até o último momento. Vetamos a cobertura da Campanha pelas Diretas. É certo que tivemos nossas benesses: nos transformamos no maior conglomerado de comunicação neste período”.

A publicação, um fac-símile do jornal carioca, sem indícios de possíveis autores, também critica anunciantes do O Globo como a Nestlé. Em um espaço publicitário, a marca afirma que “Água é um direito universal e a Nestlé Brasil finalmente concorda. Por isso desistimos de privatizar o Aquífero Guarani e as Águas de São Lourenço”.

Em outro anúncio, as empresas Vale e Samarco se “comprometem a reconstruir Mariana”, em alusão ao desastre causado na cidade mineira, após o rompimento de uma barragem de minérios da empresa.

Na tradicional coluna de opinião do jornal, Geraldo Alckmin pede desculpas aos secundaristas. “O decorrer dos acontecimentos demonstrou o que aqueles que ocuparam escolas de ensino médio tentavam nos alertar: uma reforma educacional feita sem discussão tem tudo para dar errado”, diz o governador.

Brasil de Fato entrou em contato com a redação do jornal, no Rio de Janeiro, mas até o momento não houve retorno.

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