Citados em lista de propina discursaram contra a corrupção
O ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar relatou ter pago a Onyx Lorenzoni (DEM-RS), em caixa 2, R$ 175 mil em 2006, por exemplo
BRASÍLIA. O deputado federal Bruno Araújo (PSDB-PE) cerrou o punho e deu socos para o alto no ritmo do coro “eu sou brasileiro/com muito orgulho/com muito amor”, fazendo vibrar o grupo de colegas em seu entorno na sessão que aprovava o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Era abril de 2016, e a Lava Jato avançava sobre a cúpula do governo e do PT, levando o discurso anticorrupção para as ruas e para o plenário da Câmara. Araújo virou ministro das Cidades no novo governo e, na semana passada, descobriu-se que, nas planilhas de caixa 2 da Odebrecht, tinha outra identidade: “Jujuba”, beneficiário de R$ 600 mil em contribuições não declaradas à Justiça Eleitoral.
O caso não é exceção: sete em cada dez senadores e deputados federais que viraram alvo de inquérito ou são citados na planilha de caixa 2 entregue à Lava Jato pelo ex-diretor de Infraestrutura da Odebrecht Benedicto Junior votaram “sim” pelo impeachment. Sempre em discursos com duras críticas à corrupção, promessas de novos rumos e “esperança de um futuro melhor”. Foi o caso de Milton Monti (PR-SP), hoje acusado de viabilizar pagamentos ao então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR-AM), e atuar por um “ajuste de mercado” entre empresas, que resultou em propina para agentes públicos do Dnit. Monti teria cobrado, em nome do PR, 3% dos contratos da Ferrovia Norte-Sul.
“Estamos legitimados pelo povo brasileiro para dar um basta à roubalheira!”, bradou Onyx Lorenzoni (DEM-RS) na sessão do impeachment, citando trecho do hino do Rio Grande de Sul que menciona o valor de “nossas façanhas” como “modelo a toda terra”. O ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar relatou ter pago a Lorenzoni, em caixa 2, R$ 175 mil em 2006. Tudo para que a empresa tivesse “um parceiro futuro nas suas atividades”, segundo o relato do ex-diretor.
Jutahy Júnior (PSDB-BA), suspeito de receber R$ 850 mil em caixa 2 nas campanhas de 2010 e em 2014, proferiu voto pela “certeza sobre o movimento popular das ruas”. Nos protestos citados por Júnior estavam dois nomes com maior número de pedidos de abertura de inquéritos no STF, com cinco procedimentos: os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Romero Jucá (PMDB-RR), suspeitos de crimes diversos. Todos os acusados negam as denúncias.
Deputado. Suspeito de receber R$ 580 mil para defender interesses da Odebrecht, José Carlos Aleluia (DEM-BA) disse no plenário da Câmara: “Estou votando ‘sim’ pelos crimes que Dilma cometeu”.
Brado forte
“Quanta honra o destino me reservou de poder, da minha voz, sair o grito de esperança de milhões de brasileiros. (…) Carrego comigo nossas histórias de luta pela liberdade e pela democracia. Por isso eu digo ao Brasil: sim para o futuro!”
Bruno Araújo, o “Jujuba” hoje ministro das Cidades, ao votar “sim” pelo impeachment de Dilma
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Dia da Infâmia completa um ano com Brasil em ruínas
Um ano atrás, em 17 de abril de 2016, foi escrita a página mais vergonhosa da história brasileira: a “assembleia de bandidos presidida por um bandido”, como definiu o escritor Miguel Sousa Tavares, ao se referir à sessão da Câmara dos Deputados que permitiu a abertura de um processo de impeachment sem crime de responsabilidade – ou seja, um golpe – contra a presidente Dilma Rousseff.
Decorridos 12 meses, o Brasil se tornou uma nação arruinada econômica e moralmente; mais do que isso, todos os protagonistas do golpe foram desmascarados; Eduardo Cunha, que presidiu a sessão, está preso em Curitiba, condenado a mais de 15 anos de prisão, por corrupção, evasão e lavagem de dinheiro; Aécio Neves, o agitador do golpe, é hoje um dos políticos mais desmoralizados do País, acusado de receber mais de R$ 50 milhões para favorecer empreiteiras; Bruno Araújo, que chorou ao dar o voto decisivo, também está na lista de Fachin.
Enquanto isso, Dilma Rousseff segue de pé em sua luta para devolver a democracia ao Brasil e foi aplaudida em todas as universidades em que discursou nos Estados Unidos
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