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Plantando água com Barraginha: Solução eficiente para falta de água; “As barraginhas aumentam a disponibilidade de água, … aumentando o nível de água nas cisternas, o umedecimento das baixadas e através do surgimento de minas d'água"

Plante Vida

Barraginha: Solução eficiente para falta de água

O que são barraginhas e pra que servem?

As barraginhas são pequenas bacias escavadas que enchem de água de três a seis vezes durante a estação chuvosa, no semiárido, e de oito a 12 vezes no subúmido, ocupam o espaço poroso do solo e reforçam o lençol freático, funcionando como uma caixa d’água natural.

Elas têm o objetivo de colher a água das enxurradas, proporcionando infiltração rápida entre uma chuva e outra.

“As barraginhas aumentam a disponibilidade de água, que pode ser percebida pela elevação do nível de água nas cisternas, pelo umedecimento das baixadas e mesmo através do surgimento de minadouros. Na prática, tudo isso tem uma importância muito grande”, enfatiza Luciano Cordoval, engenheiro agrônomo da Embrapa Milho e Sorgo de Sete Lagoas, responsável pelo desenvolvimento das barraginhas.

Fonte: Revista Vértice CREA MG

Projeto barraginhas, que capta água das chuvas, umedece o solo, recupera rios e traz vida nova em várias regiões do país!

“Quero fazer correr água numa grota e mostrar pro povo o que são essas barraginhas. Aqui na fazenda não tem água corrente, mas com as barraginhas resolvi o problema. Agora quero chegar a 300, porque já vi que funciona”. Assim o fazendeiro Pedro Marcos de Carvalho demonstrou o seu entusiasmo pelo sistema de captação de água da chuva que vem amenizando enchentes e resolvendo o problema da falta de água em todo o Brasil.

Há quatro anos, quando comprou uma propriedade de sete mil hectares no estado do Pará, Pedro precisava de água de caminhões-pipa para matar a sede das cinco mil cabeças de gado que criava lá. Quando conheceu as barraginhas, viu que a saída poderia estar ali e hoje já construiu 105 espalhadas pela propriedade. Segundo o fazendeiro, além da água que é usada para diversas finalidades, as barraginhas trouxeram de volta animais silvestres que haviam sumido da fazenda. “Hoje a fauna é rica e podemos ver muitas garças pantaneiras por aqui”, conta. De motivo de chacota para os vizinhos que brincavam dizendo que ele estava construindo banheiras para refrescar o gado, Pedro passou a ser exemplo. “Eles não acreditavam que elas segurariam a água, mas quando viram o resultado, começaram também a construir as suas. Realmente, no primeiro ano ela seca ligeiro, no segundo ano seca mais devagar, depois a água fica”, comemora.

Fonte: Projeto Barraginhas

A ideia

Luciano Cordoval, conhecido como o pai das barraginhas, conta que a ideia surgiu ainda em 1976, quando em visita ao deserto de Neguev, em Israel, viu capões de eucaliptos que formavam umas pequenas barragens. Lá, a chuva é de 100 a 150 mm/ano e cai, algumas vezes, em apenas uma semana. Sem as barraginhas, essa chuva concentrada provocaria enchentes, mas com elas, a água era colhida e armazenada no perfil do solo.

A água infiltra e forma uma lama temporária onde são plantadas mudas de eucaliptos, e suas raízes vão atrás da água muitos metros terra adentro, até chegar a próxima chuva no ano seguinte. Mas foi em dezembro de 1982, quando trabalhava em uma propriedade no semiárido mineiro, que observando o caminho da chuva, a ideia tornou-se projeto. Depois de dez meses de seca, caiu uma chuva de 40mm, e Luciano andou pela fazenda seguindo as partes mais úmidas, onde as enxurradas corriam. “Percebi, numa erosão transversal ao escorrimento normal da água, a formação de uma fissura pelo deslocamento da terra que barrou naturalmente o fluxo da água, formando um lago. Era uma barraginha natural”, conta o agrônomo. Desde então ele começou a se dedicar ao Projeto Barraginhas, que vem colecionando prêmios.

Mais tarde, quando foi para a Embrapa, recebeu todo o apoio para desenvolver a tecnologia e espalhá-la, primeiro pelo estado, e hoje, Brasil afora. Segundo Luciano, o potencial de utilização das barraginhas é amplo, já que elas podem ser construídas em regiões com registros pluviométricos de 500 mm anuais a 1800 mm anuais. “No semiárido, por exemplo, a barraginha pode captar a água de uma chuva intensa e concentrada e armazená-la para períodos ainda mais secos. Essa é uma das principais vantagens”, enfatiza. A água captada provoca mais umidade em áreas de baixada, favorecendo o surgimento e enriquecimento de mananciais.

À medida em que as barraginhas são construídas, outros benefícios surgem, dentre eles a revitalização de córregos e rios e o surgimento de minas e nascentes, com a consequente amenização das estiagens.

Barraginhas urbanas

As barraginhas podem também ser construídas nas cidades, em quintais. Diferentes das barraginhas rurais, as barraginhas artesanais urbanas não são escavadas, mas feitas de bambu ou pedras em torno de árvores frutíferas. “As barraginhas urbanas não só trazem vida aos quintais, mas também evitam que a água de dentro dos lotes vá para a rua escoar e fazer enchentes nas cidades. É um tipo de educação ambiental, as pessoas passam a amar as coisas naturais a partir de seu quintal, explica o criador das barraginhas. A primeira experiência foi em Bambuí e as barraginhas foram feitas para aproveitar a água que escorre do telhado e no terreno, pela pequena inclinação natural. A tecnologia é uma adaptação das barraginhas rurais, e traz ganhos ambientais e sociais também em comunidades urbanas ou em áreas onde não é possível o acesso de máquinas pesadas.

De baixo custo, as barraginhas são feitas de materiais facilmente encontrados na natureza. “Trazem muitos ganhos, especialmente em solos muito secos e compactados onde a infiltração da água das chuvas é difícil”, explica Luciano.

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Crise hídrica

O impacto da construção das barraginhas não fica restrito à zona rural, pois toda água que abastece as grandes cidades vem de regiões rurais, todos os lagos que vão abastecer as grandes cidades estão no interior. “Por isso, mesmo as barraginhas da área rural auxiliam no combate à crise hídrica”, ressalta Luciano Cordoval.

Para o vice-presidente do Crea-Minas e diretor de Operação Norte da Copasa, engenheiro civil Gilson Queiroz, as barraginhas são uma solução simples e inteligente.

“Elas são acessíveis aos produtores rurais, mas é preciso de acompanhamento técnico para construí-las, fazer a topografia, escolher os locais apropriados”, explica.

Segundo Gilson, a questão do abastecimento hoje é consequência de uma estiagem provocada pela mudança climática em todo mundo. “O problema não é a produção, estamos aparelhados para tratar e distribuir água. Não precisamos buscar causas pontuais para a seca, temos técnicas para acumular um pouco mais. É importante preservar e recuperar matas ciliares e promover a recarga do lençol freático, e as barraginhas ajudam nisso”, ressalta.

Segundo Luciano Cordoval, hoje Minas Gerais conta com cerca de 300 mil barraginhas e outras 300 mil estão espalhadas pelo país, no Distrito Federal e nos estados da Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe e Tocantins. “A um custo baixo, comunidades acostumadas a utilizar cisternas de um metro e meio de água viram o volume saltar para 11 metros”, conta o agrônomo. Ele ressalta que as barraginhas, além de elevar a disponibilidade de água, ajudam a preservar a terra, pois ao conter as enxurradas, evitam erosões. Considerada uma tecnologia social, as barraginhas provocam a elevação do lençol freático, aumentando a disponibilidade de água, que pode ser percebida pela elevação do nível das cisternas, pelo umedecimento das baixadas e mesmo através do surgimento de minadouros. “Na prática, tudo isso tem uma importância muito grande porque ameniza estiagens, propicia a sustentação de lagos criatórios de peixes, o plantio de lavouras e pomares nas áreas umedecidas. Além disso, o fato de suas águas irrigarem hortas, possibilita a produção de alimentos para as famílias e de excedentes para comercialização, gerando trabalho e renda”, finaliza Luciano.

Interessado? Click e veja a cartilha Embrapa ABC da barraginhas

Fontes:

CREA – MG. Revista Vértice 26, maio, junho/2015. http://www.crea-mg.org.br/publicacoes/revista-vertice/revistavertice/Vertice_26.pdf

Projeto Barraginhas – http://projetobarraginhas.blogspot.com.br/

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As barraginhas são pequenas bacias que captam enxurradas e permitem que a chuva infiltre no terreno, reabastecendo o lençol freático

 
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A água transforma vidas. Para usar este bem tão precioso, o engenheiro agrônomo Luciano Cordoval, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), tem uma receita: “primeiro é preciso plantar a água para depois colher os frutos da sua abundância”.

Cordoval é coordenador do projeto Barraginhas, iniciado na década de 1990 e atualmente presente em 13 estados e no Distrito Federal (leia abaixo). Ele conta que antes, durante 20 anos, retirava água dos mananciais, quando trabalhava com irrigação. “Mas, há 25 anos, eu colho chuva e devolvo água para os rios”, diz, satisfeito.

As barraginhas são pequenas bacias que captam enxurradas e permitem que a chuva infiltre no terreno, reabastecendo o lençol freático. Assim, “plantam água” e mostram ótimos resultados, já comprovados por diversos produtores.

“Antes, a chuva caía e ia embora, deixava a terra sequinha. A enxurrada saía rasgando tudo e ia embora. Hoje não. As chuvas caem, ficam aqui e vão entrando na terra devagarzinho. Então isso aí ajudou. Deu à gente condições de ter esperança e batalhar, trabalhar, plantar. E aqui produzo café, laranja, jabuticaba. Tudo produz aqui. E o meu terreno é num cerrado. Mas a gente foi vendo que é uma natureza e tem que saber conviver com ela. Eu vi que tudo tem recurso e hoje faço parte da agricultura familiar, sou cadastrado”, conta Geraldo Saldanha, produtor rural de Araçaí (MG).

“As nascentes aumentam”

O agricultor lembra que a cisterna usada para abastecer sua propriedade sempre secava. Era preciso aumentar a profundidade do poço para conseguir água ou ir buscar no córrego. Depois da construção das barraginhas, o nível de água da cisterna aumentou bastante. A abundância permitiu abastecer um pequeno lago lonado, usado como reservatório e para criação de peixes.

“O incentivo da Embrapa foi muito importante. Hoje a gente tem um conhecimento que antes não tinha. Vai aprendendo todo dia”, diz o produtor. O projeto coordenado por Luciano Cordoval faz a disseminação das barraginhas e também dos lagos de múltiplo uso. Como o agrônomo explica, após aumentar a disponibilidade de água, a partir da recarga dos lençóis com as barraginhas, é possível “usufruir da abundância”. Assim, são construídos os pequenos lagos, que são impermeabilizados com lona, coberta por uma camada de terra, e abastecidos com a água “cultivada” na propriedade.

Geraldo Saldanha fala dos resultados com satisfação. “A cisterna aumentou as águas. A gente se incentivou e fez o lago de múltiplo uso. Usa a cisterna, enche o lago e a água fica reservada. A gente pega, molha a horta, os pés do pomar. Tudo mudou, as plantas conservam mais e estão produzindo mais. A terra muda totalmente e os córregos também, as nascentes aumentam”.

“Os minadouros renasceram”

Em Sete Lagoas, o produtor João Roberto Moreira, Sr. Betinho, viu o aumento de água nas nascentes transformar sua propriedade. “Fizemos as barraginhas no Betinho há 19 anos e os minadouros renasceram. O sistema revitalizou as nascentes. Betinho desativou a bomba que retirava água do córrego e só usa água da mina”, conta Luciano Cordoval.

“A gente tinha vontade de usar essa água. Isso era meu sonho e o sonho de mamãe. Toda vida teve a mina, mas ela secava. Depois que foi fazendo as barraginhas, ela nunca mais secou. Nunca mais”, fala Sr. Betinho.

Vendo a força da água nos minadouros, o produtor fez ligação de mangueiras, que abastecem por gravidade a casa dele e a do irmão, além do curral e três laguinhos onde criam peixes. “Depois dessa água lá, todo mundo esqueceu bomba, carneiro hidráulico, esqueceu tudo isso. E tá sobrando água no corguinho”, diz, satisfeito.

Familiarizado com os benefícios das barraginhas, Sr. Betinho comenta: “o trem que eu fico mais chateado é quando eu tô andando, tá chovendo, e eu vejo aqueles tocos de enxurrada descendo e vão lá pro córrego fazendo buraco. Agora quando eu vejo a enxurrada entrar numa barraginha tranquila, aquele águão. Vai encher lentamente. Ali segura, e vai sair dela lentamente. É uma bênção. Se não tivesse barraginha, a água ia lá pro córrego fazer enchente”.

Geraldo e Betinho são alguns dos milhares de produtores que vivenciam as transformações proporcionadas pelas barraginhas ao “plantar água” nas propriedades. Eles são dois dos diversos personagens que contam a história dessa tecnologia social no livro que será lançado no próximo dia 25.

Livro resgata história do projeto

A obra “Barraginhas plantando água” é um resgate histórico do projeto. A partir de fotografias e depoimentos, é possível conhecer a disseminação das barraginhas pelo Brasil e se emocionar com as histórias de vidas que foram transformadas pela abundância de água.

Há relatos de casos por todo o País. Luciano Cordoval contou com a parceria do pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Paulo Eduardo Ribeiro e da fotógrafa Mercedes Lorenzo na produção do livro. Paulo Eduardo conta que a obra oferece uma visão geral do projeto. “Um produtor que foi beneficiado no Vale do Jequitinhonha não conhece a história de outro que está no Pará. As pessoas que participam vão ver a abrangência do trabalho, vão conhecer detalhes da história de tantos lugares a que Luciano já foi”, comenta.

O projeto trabalha a partir da mobilização social das comunidades e estabelece parcerias com associações, sindicatos rurais, cooperativas. Nas reuniões de apresentação, Cordoval destaca a importância de os moradores abraçarem a proposta e serem protagonistas. “Um dos pilares do nosso projeto é fazer com que os produtores entendam que, quando a máquina retroescavadeira entra, eles é que são os técnicos e vão mostrar os pontos onde devem ser feitas as barraginhas”.

Sr. Betinho sabe bem disso. “A pessoa que é dona da propriedade é o melhor professor para indicar os lugares das barraginhas, porque sabe onde a enxurrada corre, onde tem as erosões”, explica.

 
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Clones regionais

A partir do envolvimento dos produtores, é possível que o projeto tenha uma abrangência nacional. “Fazemos gestão à distância. Nós treinamos gestores locais que dão sequência ao trabalho. Temos clones regionais. São voluntários que têm DNA bem próximo ao meu”, diz Cordoval.

Além dos impactos gerados pela produção de água, o livro mostra as outras ações que o projeto implementou ao longo dos anos para promover o desenvolvimento social das comunidades atendidas: distribuição de kits de irrigação de hortas, de alevinos para criação de peixes, de miniestufas para produção de mudas e também de computadores para promover a inclusão digital, além da instalação de fossas sépticas biodigestoras para o saneamento básico.

“As ações foram surgindo de forma natural. Foram acontecendo as demandas e procuramos realizar os sonhos de todo mundo”, comenta Cordoval. “O kit irriga-horta nasce para as pessoas não terem de depender do uso de regador. As miniestufas surgem para auxiliar na produção das mudas. Os computadores são também uma ferramenta para as pessoas poderem acompanhar o projeto e se comunicarem. As fossas sépticas foram uma evolução, porque a barraginha recarrega o lençol freático e a fossa negra polui o lençol. Então, é preciso tratar o esgoto para não ter contaminação da água. Ao ir às comunidades, você sempre traz uma inquietação e busca fazer alguma melhoria. Então, hoje, o projeto não é só barraginha. Temos um pacote tecnológico social”, afirma o coordenador.

Saiba mais

O Projeto Barraginhas foi criado pelo engenheiro agrônomo Luciano Cordoval durante a década de 1990. Foi reconhecido e premiado por diversas entidades, como a Fundação Banco do Brasil. Nos últimos nove anos, teve patrocínio da Petrobras, que também financiou a produção do livro “Barraginhas plantando água”.

As barraginhas disseminadas pelo projeto estão presentes no Distrito Federal e em 13 estados: Minas Gerais, Piauí, Ceará, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Pará, Sergipe, Bahia e Espírito Santo.

Fonte: EMBRAPA

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10/02/15 |   Geotecnologia

Barraginhas e lagos mantêm água o ano todo

Foto: José AraujoJosé Araujo -

No interior de Minas Gerais, em comunidades onde faltava água, hoje os produtores criam peixes e irrigam hortas. Com a construção de barraginhas, pequenas bacias para captar enxurrada, a realidade de várias famílias se transformou.
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Na comunidade Fazendinhas Pai José, no Município de Araçaí, região Central de Minas, as cisternas, ou cacimbões, são a única fonte de abastecimento de água em muitas propriedades. Durante vários anos, os poços chegavam a secar nos períodos de estiagem, mas a construção das barraginhas alterou o cenário local.
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O agricultor Dimas Marques Sobrinho conta que sempre mediu o nível de sua cisterna. “A minha dava um metro e meio de água. Depois das barraginhas, passou a dar 11 metros. E não foi só a minha, foi de todo mundo que aumentou”, diz, satisfeito.
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As barraginhas retêm as enxurradas e fazem a água da chuva se infiltrar no solo. Assim, recarregam o lençol freático, que fica com o nível mais elevado. A tecnologia social, além de aumentar a disponibilidade de água na região, preserva o terreno, já que, ao conter as enxurradas, evita erosão.
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O engenheiro-agrônomo da Embrapa Milho e Sorgo (MG) Luciano Cordoval, coordenador do Projeto Barraginhas, explica que a tecnologia ajuda a aproveitar de forma eficiente as chuvas irregulares e intensas. E, com o aumento da disponibilidade de água nas propriedades, tornou-se possível construir e abastecer pequenos lagos lonados, os chamados lagos de múltiplo uso, que podem ser utilizados como criatórios de peixes, reservatórios para irrigação ou abastecimento.
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Diferentemente das barraginhas, que fazem a infiltração da água no solo, os pequenos lagos são impermeabilizados com o uso de uma lona de plástico, coberta por uma camada de terra. Abastecidos pelas águas que aumentam nas cisternas, ou cacimbões, os lagos também podem receber chuvas captadas nos telhados e direcionadas para os reservatórios.
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Ao longo dos anos, os efeitos benéficos das duas tecnologias foram percebidos em diversas comunidades. Os produtores participam do projeto, indicando os locais onde correm as enxurradas e aprendendo a construir as pequenas bacias de captação.
“No Cerrado, o objetivo principal é controlar a erosão causada pelas enxurradas. Como efeitos colaterais, temos o umedecimento das baixadas, que favorece as lavouras, e a revitalização dos cursos d’água a partir da recarga do lençol freático. Já no Semiárido, o mais importante é colher a irregularidade da chuva, aproveitar os momentos de chuva intensa. Porque, se não for captada, a água vai embora. Como os solos são rasos, a umidade se espalha e favorece a agricultura”, explica Cordoval.
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Programa Prosa Rural apresenta as barraginhas
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Geraldo Saldanha, morador da comunidade Fazendinhas Pai José, percebeu melhorias na agricultura. “As enxurradas iam embora arrebentando tudo e ficava a terra seca. Aí vieram as barraginhas e mudou o sistema. As plantas sobressaem mais, conservam e estão produzindo mais. A terra ficou melhor. Eu recomendo fazer barraginha. Não ficar com economia em usar um pedaço do terreno, porque é lucro em outras coisas. Vai ter recompensa. A natureza vai mudar totalmente”.
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O uso complementar das barraginhas e dos lagos de múltiplo uso, considerados tecnologias sociais, tem tornado realidade o sonho de muitos produtores de criar peixes e poder pescar.
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Para o produtor Geovano Vicente Morais, também morador da comunidade Fazendinhas Pai José, o lago, além da realização de um sonho, é uma terapia. “Eu tinha vontade de comprar terreno em beira de rio, mas não tive condição. Então, esse lago foi uma bênção pra mim,” comemora.
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Luciano Cordoval diz que a experiência da integração entre barraginhas e lagos abastecidos por cisternas pode ser replicada em toda região de latossolo vermelho e amarelo, que é poroso e predomina no Brasil Central. O modelo pode ser adotado com um pequeno investimento. Os minilagos de 14 metros de diâmetro, por 1,2 metro de profundidade gastam quatro horas de máquina do tipo pá carregadeira e 30 metros de lona de oito metros de largura.
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Tecnologia premiada
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Vencedor do prêmio Fundação Banco do Brasil em 2005 na categoria recursos hídricos, o projeto “Integração das Tecnologias Sociais Lago de Múltiplo Uso e Barraginhas” espalhou-se pelo País com o apoio de associações, prefeituras e da estatal brasileira de petróleo, a Petrobras. Mais de 150 mil barraginhas já foram instaladas e estão espalhadas no Distrito Federal e em 11 estados: Minas Gerais, Piauí, Ceará, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Rio de Janeiro, Sergipe, Bahia, Pará e São Paulo. Além disso, a divulgação da tecnologia já estimulou a implantação de outras milhares de pequenas barragens por todo o País. Mas, certamente, os principais resultados são as transformações de paisagens e aumento da qualidade de vida de milhares de pequenos produtores.
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Como tudo começou
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A barraginha é uma tecnologia simples e surgiu da observação de um barramento natural ocorrido após uma forte chuva no início da década de 1980. “Foi num ano seco e não chovia há mais de dez meses no semiárido norte-mineiro. Aí aconteceu um temporal rápido, caindo 40 mm de uma chuva intensa, correndo muita enxurrada. Depois, andando a cavalo por uma fazenda, um lugar chamou minha atenção. Esse ponto parecia um minioásis no formato de um lago. Estava verde, com uma relva densa. Nas outras áreas, a chuva não tinha sido suficiente para estimular a brotação das pastagens, estava tudo ainda aparentemente desertificado”, conta o engenheiro-agrônomo Luciano Cordoval.
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Cordoval observou o fenômeno e percebeu que a água da chuva, por estar sobre um terreno frágil, sujeito à erosão, abriu uma fissura, escavando e carreando terra, que se depositou mais abaixo, formando um barramento natural. “Essa lama depositada foi suficiente para parar a enxurrada, encheu uma bacia rasa. E creio que se infiltrou logo, e as sementes misturadas na lama germinaram, formando esse tapete verde, com o formato do lago criado.”
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Durante a observação, Cordoval se lembrou de experiências que havia conhecido em Israel. “Em 1976, durante um curso, eu fazia uma viagem e, numa parada, vimos pontos verdes ao longe no deserto do Neguev. O guia explicou que nos pequenos vales, grotas suaves, eles fazem barramentos e deixam à espera de chuvas. Vindo as chuvas, os pequenos açudes enchem parcialmente e, assim que a água infiltra, forma-se uma lama. Ali, plantam mudas de eucaliptos, fazendo covas nesses barramentos umedecidos. À medida que o local vai secando, as raízes vão se aprofundando atrás da umidade e resistem até o próximo evento de chuvas”.
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Cordoval conta que decidiu aproveitar as duas experiências como inspiração para a criação da tecnologia. “A partir daí, comecei a rascunhar desenhos. Começavam ali as barraginhas,” lembra.
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Marina Torres (MTb 08577/MG)
Embrapa Milho e Sorgo

Telefone: (31) 3027-1272