Cantanhêde e a gramática da manipulação, por Madrasta do Texto Ruim
Cantanhêde e a Gramática da Manipulação
por Madrasta do Texto Ruim
Essa manchete rende uma aula inteira sobre como mocozar responsabilidades.
“Preocupa a reação de Lula, que não poupa ameaças de revide a ataques a caravana”
Vejamos os verbos dela: Preocupa e poupa.
Certo?
Não. Tem mais três verbos disfarçados de substantivos: ameaças, revides e ataques. Justamente as palavras mais negativas da manchete.
Por que um verbo vira substantivo (tecnicamente, chama-se “nominalização verbal”, mas quem liga?)? Eu mostro:
– a polícia atacou os bandidos.
Pode virar
– o ataque da polícia
Mas, mais comumente, vira
– o ataque AOS BANDIDOS.
Cadê a polícia? Sumiu. Ela é agente da frase, mas na nominalização do verbo atacar, foi mocozada.
É pra isso que serve a nominalização de verbos. Pra você dar destaque AO QUE VOCÊ QUER QUE O SEU LEITOR ENTENDA.
Voltando à manchete acima. Quem tá ameaçando? A própria manchete responde: é Lula.
Quem vai revidar? Idem: é Lula.
Quem tá atacando?
Cri cri cri cri….
Mas se sabe que o ataque foi à caravana. Nós sabemos que a caravana do Lula foi atacada por agroboys. E o leitor do Estadão? Sabe?
Sempre que você ler uma manchete com o verbo atacar ou o substantivo ataque, faça esse teste.
Você vai observar que o sujeito que mais aciona o verbo atacar é PT, em todas as suas concepções: Lula, Dilma, qualquer outro membro do PT, militantes, partidários de Lula etc etc etc.
Muitas vezes o verbo atacar é perfeita (e mais adequadamente) substituído por criticar. Mas atacar é o verbo escolhido, pq aciona ideias de ímpeto, instinto, irracionalidade. Criticar pressupõe pensar, ponderar.
Quando o PT fica do lado de lá do verbo, ou seja, qdo é vítima / alvo de ataques, o agente da frase é sumariamente mocozado.
Apenas reparem. Este foi um drops do que eu tô preparando pro meu livro “A Gramática da Manipulação”.
Tô acabando de escrever, me aguardem!