O lobista Nílton Monteiro, que denunciou o Mensalão Mineiro e a Lista de Furnas, soltou a língua de novo e já abriu as mochilas que guardava na casa de aliados para entregar o que sabe e documentos que tem sobre outros esquemas de corrupção em Minas Gerais.
Ontem, a Polícia Civil de Minas Gerais fechou o acordo de delação premiada com ele. Tem chumbo grosso a caminho. O delegado Rodrigo Bossi de Pinho, chefe do Departamento de Investigação sobre Fraudes, é o responsável pela investigação do esquema que abafou as denúncias de desvio de recursos público durante os governos de Aécio Neves e Antonio Anastasia e já tomou os primeiros depoimentos de Nílton.
Bossi não dá entrevista sobre os casos nem pode divulgar o que já colheu. Mas quem acompanha a investigação diz que a denúncia envolve delegados de polícia, promotores e até setores do judiciário — na parte que cabe a autoridades com foro privilegiado, os depoimentos serão encaminhados à Procuradoria Geral de Justiça do Estado e à Procuradoria Geral da República.
O alto teor de nitroglicerina das denúncias do lobistas pode ser medido pela reação de um dos denunciados, o delegado Márcio Nabak, que, em papel timbrado da Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, pediu ao Tribunal de Justiça que Nílton seja preso, para cumprir acórdão em que ele teve uma condenação criminal confirmada.
A ironia da história é que o pedido de prisão foi encaminhado ao desembargador José Mauro Catta Preta Leal, que era procurador do Estado durante o governo de Eduardo Azeredo e teve seu nome citado no processo em que o ex-governador foi condenado por causa do mensalão.
Foi o atual desembargador Catta Preta quem assinou parecer que autorizou a transferência de recursos do Estado para a agência de publicidade de Marcos Valério, dinheiro que acabou desviado para campanhas políticas, na eleição de 1998.
Nílton é uma pedra do sapato do esquema comandado pelo PSDB em Minas Gerais, ele que era operador de Sergio Naya, político do PP já falecido, que mantinha o cofre que abasteceu campanhas de todos os partidos, inclusive de petistas.
Nílton tem foto em que aparece na lancha com o caixa de campanha do PSDB, Cláudio Mourão.
Durante a denúncia do Mensalão de Brasília, que abasteceu a base aliada do PT, Nílton entregou a deputados e senadores contabilidade e recibos de transferências de recursos a tucanos. “Ué, por que só o PT? O PSDB é que começou essa história em Minas”, disse ele a políticos que faziam parte de duas CPIs em Brasília. “Não era justo”, disse ele, quando questionado por mim por que havia entregue esses documentos.
Nílton fez mais. Entregou uma lista assinada pelo ex-diretor de Furnas, Dimas Toledo, com o nome de políticos indicados por Aécio Neves que recebiam dinheiro desviado da estatal. Para silenciar Nílton, policiais civis da confiança de Aécio Neves o acusaram ele de falsificar os documentos.
A Polícia Civil, durante os governos de Aécio e Anastasia, abriu vários inquéritos contra Nílton e vazou a denúncia de que ele era o maior estelionatário da república — denúncia publicada até em veículos de circulação nacional, como Veja e O Globo.
Nílton foi preso e permaneceu trancado durante toda a campanha de 2014, quando Aécio disputava a presidência da Republica.
Terminada a eleição, foi solto, e cobrou o andamento dos inquéritos. Todos eles têm sido derrubados agora, com a constatação de que as perícias que o apontavam como falsário foram fraudadas. O feitiço virou contra os feiticeiros.
A Polícia Federal confirmou a autenticidade da lista de Furnas e de outros documentos entregues por ele. Nílton luta agora nos tribunais em Brasília para tentar reverter a condenação em segunda instância que ameaça tirar outra vez sua liberdade. Segundo seu advogado, Bruni César Silva, as provas que fundamentaram sua condenação são falsas.
A delação de Nílton, somada a de Marcos Valério, tem potencial para ruir um pouco mais o esquema de Azeredo/Aécio/Anastasia em Minas. Politicamente, eles estão muito enfraquecidos, mas ainda têm força na Polícia Civil, no Ministério Público do Estado e no Poder Judiciário. É contra essas forças que Nílton e seu advogado lutam. Pelo menos um delegado, Rodrigo Bossi de Pinho, lhe deu ouvidos e, ao que parece, conseguiu provas importantes.