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Após dois anos de Temer, a indústria nacional empobreceu e voltou a ter como principal receita, produtos com menor valor agregado, associado a recursos naturais; Desindustrialização avança com importação produtos com maior valor agregado e conteúdo tecnológico

Herança a ser deixada por Temer é um desastre nacional, por Marcio Pochmann

Foto: Lula Marques


Por Márcio Pochmann
Na RBA

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Após dois anos de governo, Temer já antecipa a herança que ficará para a próxima administração federal a ser iniciada em janeiro de 2019: o empobrecimento do setor produtivo nacional. A situação não se encontra ainda mais grave devido à política econômica anteriormente conduzida pelos governos liderados pelo PT, como uma espécie de “colchão de proteção” protagonizado pelas reservas externas em mais de 370 bilhões de dólares.

Sem isso o Brasil estaria caminhando pela “hora da morte”, conforme atualmente ocorre na economia da Argentina. Depois de mais de dois anos do governo Macri apostando no receituário neoliberal, cujo corte nos gastos públicos elevou a taxa de pobreza a mais de um quarto da população, trouxe de volta a fuga de dólares, a inflação e o desespero de ter que recorrer ao FMI, sobrando maior desânimo à sustentação do crescimento econômico.

O Brasil também enfrenta problemas equivalentes, cujos resultados não são tão dramáticos em função de o Banco Central poder dispor de amplas reservas internacionais para ofertar moeda estadunidense em quantidade mais do que suficiente para evitar corrida intensa contra o real. Mas isso não alivia, contudo, a problemática do setor produtivo, após a divulgação pelo IBGE da Pesquisa Industrial Anual (PIA) referente ao ano de 2016.

Diante da investigação de 3,4 mil produtos das empresas industriais com 30 ou mais pessoas ocupadas, constata-se que o sistema produtivo brasileiro teve como principal receita de vendas, o óleo diesel, os óleos brutos de petróleo, o álcool etílico desnaturado para fins carburantes e as carnes frescas ou refrigeradas. Na dimensão das grandes regiões, percebe-se que no Nordeste prevalece o óleo diesel como sendo o principal produto industrial vendido, enquanto a região Norte destaca-se com as vendas da  produção de minério de ferro.

Para as regiões Centro Oeste e Sul, a carne foi a principal receita obtida entre as vendas de toda a produção industrial. As carnes de bovinos frescas ou refrigeradas destacaram-se na região Centro Oeste, ao passo que no Sul, os mais importantes produtos industriais vendidos foram as carnes e miudezas de aves congeladas.

O empobrecimento das cadeias industriais é visível, resultando da aplicação contínua de uma política neoliberal que levou à recessão e segue se mostrando incapaz de fazer com que o Brasil volte a crescer de forma sustentada. Somente no ano de 2016, por exemplo, os principais produtos industriais que decaíram de importância foram a massa de concreto para construção civil, os computadores pessoais portáteis, os caminhões e os medicamentos.

Em síntese, a indústria nacional se empobrece cada vez mais ao se especializar em produtos com menor valor agregado, fortemente associado a recursos naturais disponíveis e ao custo rebaixado da força de trabalho. Com isso, o mercado interno esvazia o seu potencial de expansão, sendo cada vez mais atendido pela importação de produtos com maior valor agregado e elevado conteúdo tecnológico.

O avanço acelerado do processo de desindustrialização no Brasil resulta de erros de várias políticas governamentais, mas fundamentalmente do neoliberalismo que parte do conceito de que o setor produtivo depende espontaneamente de sua própria capacidade de competir no mundo onde as medidas de proteção nacional são cada vez maiores. O desastre nacional se acentua, já antecipado como principal herança do governo Temer ao próximo governo a ser eleito em outubro vindouro.

Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas.

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IBGE: Com greve dos caminhoneiros, indústria recua 10,9% e volta ao patamar de 2003

Foto: Agência Brasil
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Em maio de 2018, a produção industrial nacional recuou 10,9% frente a abril, na série com ajuste sazonal, queda mais acentuada desde dezembro de 2008 (-11,2%), refletindo os efeitos da paralisação dos caminhoneiros que afetou o processo de produção de várias unidades produtivas no país. Com o resultado, o patamar de produção retornou a nível próximo ao de dezembro de 2003, ficando, dessa forma, 23,8% abaixo do ponto recorde alcançado em maio de 2011. Na série sem ajuste sazonal, em relação a maio de 2017, a indústria recuou 6,6%, recuo mais intenso desde outubro de 2016 (-7,3%), e interrompeu doze meses consecutivos de taxas positivas.
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Abril 2018 / Maio 2018      -10,9%
Maio 2018 / Maio 2017      -6,6%
Acumulado em 2018           2,0%
Acumulado em 12 meses   3,0%
Média Móvel Trimestral      -3,4%
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O setor industrial acumulou expansão de 2,0% nos cinco primeiros meses de 2018, ritmo abaixo do resultado registrado até abril último (4,5%). O índice acumulado dos últimos doze meses, ao passar de 3,9% em abril para 3,0% em maio de 2018, assinalou redução na intensidade do crescimento e interrompeu a trajetória ascendente iniciada em junho de 2016 (-9,7%). A publicação completa da Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF) pode ser acessada ao lado desta página.
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De abril para maio, 24 dos 26 ramos industriais recuaram

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O recuo de 10,9% da indústria em abril teve predomínio de resultados negativos, alcançando as quatro grandes categorias econômicas e 24 dos 26 ramos pesquisados. Entre as atividades, as influências negativas mais relevantes foram assinaladas por veículos automotores, reboques e carrocerias (-29,8%) e produtos alimentícios (-17,1%). Outras contribuições negativas relevantes vieram de bebidas (-18,1%), de celulose, papel e produtos de papel (-13,0%), de produtos de minerais não-metálicos (-14,3%), de produtos de borracha e de material plástico (-10,5%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-15,4%), de outros produtos químicos (-5,6%), de produtos de metal (-10,5%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,9%), de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-11,7%), de metalurgia (-4,2%), de máquinas e equipamentos (-5,3%), de produtos de madeira (-15,1%), de outros equipamentos de transporte (-13,8%), de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-10,8%) e de couro, artigos para viagem e calçados (-9,8%). Apenas os ramos de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (6,3%) e de indústrias extrativas (2,3%) assinalaram avanços na produção nesse mês.

Entre as grandes categorias econômicas, ainda na comparação com o mês imediatamente anterior, bens de consumo duráveis, ao recuar 27,4%, mostrou a queda mais acentuada em maio de 2018, influenciada, em grande parte, pela menor produção de automóveis. Vale destacar que essa redução foi a mais intensa desde o início da série histórica e interrompeu três meses consecutivos de taxas positivas e que acumularam expansão de 7,6%. Os setores produtores de bens de capital (-18,3%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (-12,2%) também apontaram taxas negativas mais elevadas do que a média nacional (-10,9%), com ambos eliminando os ganhos acumulados nos meses de março e abril últimos: 5,7% e 1,2%, respectivamente. O segmento de bens intermediários (-5,2%) também assinalou recuo na produção, com a perda mais acentuada desde dezembro de 2008 (-11,9%), e reverteu o crescimento de 1,5% verificado em abril último.

Ainda na série com ajuste sazonal, a evolução do índice de média móvel trimestral para o total da indústria mostrou queda de 3,4% no trimestre encerrado em maio de 2018 frente ao nível do mês anterior, após avançar 0,3% em abril e recuar 0,7% em março último, quando interrompeu a trajetória ascendente iniciada em maio de 2017. Entre as grandes categorias econômicas, o segmento de bens de consumo duráveis (-8,3%) apontou o resultado negativo mais intenso nesse mês, interrompendo, dessa forma, a trajetória predominantemente ascendente iniciada em maio de 2017. Os setores produtores de bens de capital (-4,4%), de bens de consumo semi e não-duráveis (-3,7%) e de bens intermediários (-1,6%) também recuaram em maio de 2018, com o primeiro interrompendo o comportamento positivo presente desde fevereiro de 2017; o segundo eliminando o ganho de 2,1% acumulados entre dezembro de 2017 e abril de 2018; e o terceiro permanecendo com a trajetória descendente iniciada em janeiro último.

Na comparação com maio de 2017, a indústria recuou 6,6% em maio de 2018, com resultados negativos nas quatro grandes categorias econômicas, 24 dos 26 ramos, 63 dos 79 grupos e 69,7% dos 805 produtos pesquisados. Vale citar que, no resultado desse mês, verifica-se a influência tanto dos efeitos da paralisação dos caminhoneiros, como do efeito-calendário, já que maio de 2018 (21 dias) teve um dia útil a menos do que igual mês do ano anterior (22). Entre as atividades, produtos alimentícios (-14,3%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-12,8%) exerceram as maiores influências negativas na formação da média da indústria. Outras contribuições negativas relevantes sobre o total nacional vieram de outros produtos químicos (-9,3%), de bebidas (-14,9%), de produtos de minerais não-metálicos (-12,8%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-15,5%), de celulose, papel e produtos de papel (-9,7%), de couro, artigos para viagem e calçados (-17,9%), de produtos de metal (-9,2%), de máquinas e equipamentos (-6,3%), de produtos de borracha e de material plástico (-7,7%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,3%), de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-12,3%), de produtos do fumo (-21,2%) e de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,8%). Por outro lado, ainda na comparação com maio de 2017, as atividades de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (9,4%) e de indústrias extrativas (2,0%) apontaram as influências positivas no total da indústria.

Ainda em relação a maio de 2017, bens de consumo duráveis (-11,9%) e bens de consumo semi e não-duráveis (-9,1%) assinalaram, em maio de 2018, os recuos mais acentuados entre as grandes categorias econômicas. Os segmentos de bens de capital (-6,6%) e de bens intermediários (-5,2%) também mostraram taxas negativas nesse mês, com o primeiro repetindo a magnitude de perda observada na média nacional (-6,6%); e o segundo com a queda mais moderada entre as categorias econômicas.

O segmento de bens de consumo duráveis recuou 11,9% em maio de 2018 frente a igual período do ano anterior, queda mais intensa desde julho de 2016 (-16,1%), e interrompeu dezoito meses de resultados positivos consecutivos nesse tipo de comparação. Nesse mês, o setor foi particularmente pressionado pela redução na fabricação de automóveis (-17,4%). Vale citar também os recuos assinalados por eletrodomésticos da “linha branca” (-15,3%) e da “linha marrom” (-4,5%), móveis (-14,8%) e outros eletrodomésticos (-9,0%). Por outro lado, o impacto positivo mais importante foi registrado pela maior produção de motocicletas (25,1%).

Ainda em relação a maio de 2017, o segmento de bens de consumo semi e não-duráveis mostrou queda de 9,1% no índice mensal de maio de 2018, após registrar expansão de 9,8% em abril último. Vale destacar que o recuo observado em maio de 2018 foi o mais elevado desde abril de 2017 (-9,4%).

Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, o segmento de bens de capital, ao recuar 6,6% em maio de 2018, interrompeu doze meses de resultados negativos consecutivos e marcou a queda mais intensa desde outubro de 2016 (-8,2%). Na formação do índice desse mês, o segmento foi influenciado, em grande parte, pela queda observada no grupamento de bens de capital para equipamentos de transporte (-11,0%). As demais taxas negativas foram registradas por bens de capital para fins industriais (-8,9%) e agrícolas (-9,6%). Por outro lado, os impactos positivos foram assinalados pelos grupamentos de bens de capital para construção (14,5%), de uso misto (1,9%) e para energia elétrica (1,0%).

A produção de bens intermediários apontou redução de 5,2% no índice mensal de maio de 2018, revertendo, dessa forma, a taxa positiva observada em abril último (4,7%). Vale citar que a queda verificada em maio de 2018 foi a mais elevada desde outubro de 2016 (-7,2%).

No índice acumulado no ano, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou expansão de 2,0%, com resultados positivos nas quatro grandes categorias econômicas, 14 dos 26 ramos, 44 dos 79 grupos e 50,3% dos 805 produtos pesquisados. Entre as atividades, a de veículos automotores, reboques e carrocerias (16,4%) exerceu a maior influência positiva na formação da média da indústria, impulsionada, em grande parte, pelos itens automóveis, caminhão-trator para reboques e semirreboques, caminhões e autopeças. Outras contribuições positivas relevantes sobre o total nacional vieram de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (21,4%), de metalurgia (6,3%), de máquinas e equipamentos (4,6%), de celulose, papel e produtos de papel (3,6%), de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (4,7%) e de produtos de borracha e de material plástico (2,9%). Por outro lado, entre as onze atividades que apontaram redução na produção, as principais influências no total da indústria foram registradas por outros produtos químicos (-2,9%), indústrias extrativas (-1,2%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,3%).

Entre as grandes categorias econômicas, o perfil dos resultados para os cinco primeiros meses do ano de 2018 mostrou maior dinamismo para bens de consumo duráveis (13,9%) e bens de capital (9,5%), impulsionadas, em grande parte, pela ampliação na fabricação de automóveis (12,2%) e eletrodomésticos da “linha marrom” (35,6%), na primeira; e de bens de capital para equipamentos de transporte (17,4%), para construção (43,5%) e de uso misto (17,3%), na segunda. Os setores produtores de bens intermediários (0,7%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (0,2%) também assinalaram taxas positivas no índice acumulado no ano, mas com avanços abaixo da magnitude observada na média nacional (2,0%).