14-11-2018, 19h30
Para novo ministro, só Trump pode salvar Ocidente
KENNEDY ALENCAR
BRASÍLIA
Foi muito negativa a reação interna no Itamaraty à escolha de Ernesto Araújo para o comando do Ministério das Relações Exteriores no governo Bolsonaro. Levando em conta as opções internas que tinha, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, ficou com a pior.
Diretor do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos, Ernesto Araújo defende alinhamento automático com os Estados Unidos e já escreveu em artigo para revista diplomática que “somente Trump pode ainda salvar o Ocidente”.
Araújo ascendeu ao posto de ministro de 1ª classe recentemente. Nunca teve posição de comando de embaixada no exterior. Segundo diplomatas experientes, há perplexidade no Itamaraty com uma escolha tão ideológica e pouco técnica. O futuro ministro é considerado “júnior” para a tarefa que assumirá.
O uso do verbo regenerar para comunicar a indicação também causou surpresa no corpo diplomático. Ninguém sabe o que significará a “regeneração” da política externa anunciada por Bolsonaro num tuíte.
As ideias de Araújo eram pouco conhecidas no Itamaraty até que ele fizesse neste ano manifestações políticas a favor de Bolsonaro, chamando o PT de “Partido Terrorista”.
Segundo seus escritos, o futuro ministro mistura “geopolítica” com “teopolítica”. Acredita que o mundo ocidental está ameaçado pelo domínio do que chama de “marxismo cultural globalista”, pensamento que diluiria “gênero” e “sentimento nacional”. Parece má filosofia ou má teoria política.
Uma área tão delicada não pode ser tratada com tamanho amadorismo. O governo Bolsonaro nem começou, mas já criou arestas com Argentina, China, países árabes, Noruega e Cuba.
O alinhamento automático com os Estados Unidos é arriscado para o Brasil, que não tem o mesmo peso geopolítico que a maior máquina econômica e militar do planeta possui para comprar brigas na arena internacional.
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Dois tuítes e um problemão
Em duas postagens no Twitter, estabelecendo condições para manter cubanos no programa “Mais Médicos”, Bolsonaro obteve uma dura reação de Havana. Cuba disse que não atenderá aos requisitos do futuro governo brasileiro para continuar o programa: pagamento integral aos médicos do país caribenho.
A participação cubana de quase 50% no programa “Mais Médicos” é feita pela OPAS (Organização Panamericana de Saúde) por meio de convênio no qual um quarto do pagamento vai para os profissionais e dois terços ficam com Havana. Esse acordo foi mantido no governo Temer, que tem críticas a Cuba.
Bolsonaro criou um problema que vai penalizar os mais carentes no Brasil. Os médicos cubanos normalmente vão para cidades no interior do país, mais pobres e frequentemente do Norte e Nordeste. Parte dos médicos brasileiros não gosta de trabalhar nessas localidades.
Quando se invoca ideologia, há uma via de mão dupla. O Brasil poderá se afastar de alguns países, mas algumas nações também poderão se distanciar da futura administração Bolsonaro.
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“O embaixador Ernesto Araújo como ministro das Relações Exteriores, por tudo o que disse até agora em seu blog de ativista, indica que o governo escolheu um alinhamento entusiástico a Donald Trump e isso tem um custo econômico”, diz a jornalista Miriam Leitão. Ela lembra ainda que “os artigos que postou no blog dele têm ideias definidas pelos seus colegas como ‘exóticas’ e ‘constrangedoras’”.
15 de Novembro de 2018 às 09:00
247 – “O embaixador Ernesto Araújo como ministro das Relações Exteriores, por tudo o que disse até agora em seu blog de ativista, indica que o governo escolheu um alinhamento entusiástico a Donald Trump e isso tem um custo econômico”, diz a jornalista Miriam Leitão, em artigo publicado nesta quinta-feira. Ela lembra ainda que “os artigos que postou no blog dele têm ideias definidas pelos seus colegas como ‘exóticas’ e ‘constrangedoras’”.
“Na vida real, os Estados Unidos estão num dos piores momentos de sua política externa, com conflitos com vários aliados e em muitas frentes, uma diplomacia de ofensas e brigas. Os EUA com o tamanho que têm podem errar. Um país como o Brasil não poderia. O risco é o de comprar as brigas americanas, sem o poder de barganha que eles têm, perder mercados e se isolar”, afirma Miriam. “Não é natural também que, num local tão disciplinado como o Itamaraty, um diplomata tenha um blog de militância política partidária.”
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“O caminho que ele tentará influenciar o governo, se presume dos textos, é o de ser caudatário dos Estados Unidos. Isso aconteceu algumas vezes no Brasil, como no período de Eurico Gaspar Dutra”, pontua ainda a jornalista, numa referência ao pior governo da história do Brasil, que queimou as reservas acumuladas pelo País durante a Segunda Guerra, comprando quinquilharias norte-americanas.
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Nesta nomeação, houve também outro fato inusitado. Parte do processo de triagem de ministros foi feita pelos filhos do presidente eleito. Não é normal do ponto de vista institucional que isso seja delegado a pessoas por seus laços familiares com o presidente”, diz Miriam.
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A escritora Eliane Brum publicou nesta quinta-feira (15) texto sobre a indicação de Ernesto Araújo para o ministérios das Relações Exteriores de Jair Bolsonaro (PSL), o que ela define como uma catástrofe; “a maioria (porque a maioria não votou em Bolsonaro) sabe que está ferrada; mas cada dia a gente percebe que está muito, mas muito mais ferrada do que sequer poderia imaginar; a escolha de alguém com esta mentalidade num momento crítico para a vida no planeta é uma catástrofe.
15 de Novembro de 2018 às 10:14
247 – O chanceler que representará o Brasil a partir de 2019 NÃO acredita em mudança climática. Como se fosse uma questão de acreditar ou não acreditar, como ET de Varginha e Mula Sem Cabeça. Quando os mas respeitados cientistas do mundo na área do clima alertam que temos 12 anos para promover ações para impedir que o aquecimento global supere os 1,5 graus Celsius, quando milhões de pessoas já são atingidas pelos efeitos da mudança climática, quando o Ártico degela… é um homem com estas ideias que teremos para representar o Brasil no mundo.
Como os bolsocrentes transformam tudo em ideologia -parte por estratégia, parte por ignorância -, o ministro de Relações Exteriores de Bolsonaro acredita que mudança climática é uma ideologia. (!!!)
É muita vergonha. Mas a vergonha é superável. O problema é o que isso significará para o Brasil num governo Bolsonaro. E para a Amazônia.
A maioria (porque a maioria não votou em Bolsonaro) sabe que está ferrada. Mas cada dia a gente percebe que está muito, mas muito mais ferrada do que sequer poderia imaginar. A escolha de alguém com esta mentalidade num momento crítico para a vida no planeta é uma catástrofe. Mesmo.
Leia na íntegra no Facebook da Eliane Brum
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“A escolha do ministro das Relações Exteriores do futuro governo Bolsonaro não poderia ter sido mais desastrada”, diz o colunista Merval Pereira, do Globo. Em seu artigo, ele comenta as posições ridículas do diplomata Ernesto Araújo, que vê Donald Trump como uma espécie de deus redentor do Ocidente.
15 de Novembro de 2018 às 08:33
247 – “A escolha do ministro das Relações Exteriores do futuro governo Bolsonaro não poderia ter sido mais desastrada”, diz o colunista Merval Pereira, do Globo, em artigo publicado nesta quinta-feira. “Nosso futuro chanceler vê Trump como nada menos que um Deus, que vai salvar o Ocidente. Segundo ele, a visão do Ocidente proposta por Trump não é baseada no capitalismo e na democracia liberal, mas na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais. Em seu centro, está não uma doutrina econômica e política, mas o anseio por Deus, o Deus que age na história”, afirma.
“Segundo nosso futuro chanceler, o Brasil necessita refletir e definir se faz parte desse Ocidente, como resume a apresentação de seu artigo, que diz que é necessário recuperar aspectos históricos da simbologia nacionalista e da identidade ocidental. Nesse contexto, a exemplo de Trump, o futuro chanceler acha que o espírito ocidental estaria sendo mitigado por uma política globalista, e é preciso reforçar a herança histórica, cristã, cultural, bem como o papel da família e do estado de direito a partir da tradição do liberalismo dos EUA e de seu destino manifesto”, diz ainda o jornalista.
No Itamaraty, o clima é de revolta com o chanceler pouco graduado, indicado por Olavo de Carvalho (saiba mais aqui).
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