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Governo Bolsonaro, o último que entrar acenda a luz, por Sergio Saraiva; "Quinze dias de governo. O governo acabou? Longe disso. Na verdade, o governo ainda não começou… tornou-se consenso entre esses analistas que não se pode falar em “governo Bolsonaro”"

Governo Bolsonaro, o último que entrar acenda a luz, por Sergio Saraiva

Um balanço prematuro, mas necessário, de um governo que ainda não começou e já cansou. Necessário pelo que ainda pode vir a cansar.

posse de bolsonaro

Governo Bolsonaro, o último que entrar acenda a luz, por Sergio Saraiva

Shame and scandal in the family

Com escândalos rondando a figura do presidente, seus auxiliares diretos e seus familiares; e com desentendimentos na equipe, que melhor definiu o governo Bolsonaro foi Gilberto Dimenstein: o governo Bolsonaro começava do modo que outros terminavam. Quando Dimenstein exarou seu vaticínio, Bolsonaro ainda não havia assumido.

Faz quinze dias da posse e, nessas duas semanas, o chanceler de Bolsonaro já recitou Ave Maria em tupi e indispôs o Brasil com boa parte dos seus melhores mercados de exportação; o ministro da Casa Civil paralisou o governo do ponto de vista operacional ao buscar “despetizar” um governo que era do PMDB – o PT não estava mais no poder havia dois anos . A ministra da Família sonha com príncipes azuis e princesas rosas. O ministro da Educação combate o “globalismo pragmático sofístico gramsciano” – seja lá o que isso for – e, então, nomeia para o MEC um auxiliar acusado de plágio acadêmico e que responsabiliza os governos militares pela admissão de professores marxista nas escolas.

O filho do vice-presidente é promovido para um cargo no Banco do Brasil que triplica seu salário, um amigo particular do presidente é nomeado gerente na Petrobras e a primeira-dama nomeia uma amiga para uma secretaria no Ministério dos Direitos Humanos. Enquanto Queiroz samba no hospital e vira marchinha de carnaval.

Dos filhos do capitão nada a falar. Continuaram a bater boca nas redes sociais – corno e micropênis – e daí para baixo. Quando não um deles tomava carona no bebê-conforto do carro oficial da posse.

Bolsonaro precisou ser desautorizado pelo pessoal do segundo escalão quando declarou que havia assinado aumento de IOF. E de recuo em recuo recuou mais de uma vez. E, por último, tentou surfar na extradição de Battisti e Evo Morales tirou-lhe a prancha. Bolsonaro ficou com a lata de parafina e brocha na mão.

Quinze dias de governo. O governo acabou? Longe disso. Na verdade, o governo ainda não começou. Paulo Guedes, esse é o cara. Esse vai acender a luz.

Me ajuda a te ajudar

Bolsonaro concorreu a eleição sem apresentar um plano de governo e mesmo sem participar de sequer um debate. Era seu preço e foi aceito e pago pelo poder econômico para derrotar Haddad e o PT. Para derrotar Lula, quem ainda está pagando o preço é o STF.

Assim, diante do desgoverno que estão sendo as duas primeiras semanas do governo Bolsonaro, analista puseram-se a dar tratos às bolas … de cristal.

Logo tornou-se consenso entre esses analistas que não se pode falar em “governo Bolsonaro”. Seria mais adequado falar em um aglomerado de três partes que formariam a estrutura que está no governo. Bolsonaro e sua trupe – a parte irracional – é o que tratamos acima.

Mas haveria duas partes racionais. O bloco Guedes-Moro – os superministros – Guedes cuidando da economia e Moro cuidando na Justiça do que seja lá for – talvez das “negociações com o Congresso” baseadas em informações do COAF. E, completando, o bloco dos militares cuidando da infraestrutura e de tudo mais.

Agora, o que atualmente dá sustentação institucional ao governo é o fato do poder econômico ter em relação a ele – governo – uma pauta definida. Pauta que não é afetada pelas bizarrices da parte irracional do governo Bolsonaro, nem pelas do próprio presidente. Pauta onde a reforma da Previdência é a ação mais urgente. Depois virão todas as outras que facilitem seus negócios. Como com Temer, enquanto acreditar que isso ocorrerá, o poder econômico dará apoio a Bolsonaro. E não só ele. Não é à toa que o STF, fortemente alinhado com o poder econômico, já sinalizou que, a parte suprema do Judiciário, não trará dificuldades ao governo.

O por enquanto, no entanto, não irá até 2022. E as dificuldades virão.

Não há reforma da Previdência que gere os “recursos disponíveis para investimentos” que o mercado espera, sem que as aposentadorias dos militares e do Poder Judiciário sejam afetadas. Isso sem falar das de outros órgãos sensíveis, tais como, a Policia Federal. Como aliás, foi mencionado pelo próprio superministro Paulo Guedes.

Ocorre que já há sinalizações explícitas, por parte dos militares, de que querem ser incluídos fora dessa. Se os militares forem poupados, não há como avançar sobre o Poder Judiciário e a Policia Federal. E, então, sem isso, não haverá sacrifício que baste aos trabalhares da economia privada para bancar uma tal “nomenclatura” apenas com a pele do couro das costas dos seus velhos. A diferença de vencimentos é brutal – literalmente brutal com o trabalhador da iniciativa privada, já espoliado de direitos trabalhista e até de um Ministério do Trabalho que colocasse os interesse do trabalho como pauta de governo.

Eis, no curto prazo, o desafio da parte racional do governo Bolsonaro. E isso é tudo e somente o que se pode enxergar daqui – a reforma da Previdência. Sem ela, podem ser curtos mesmo não só o prazo para as reformas, mas o próprio governo Bolsonaro. Por conseguinte, pela ótica do mercado, os médio e longo prazos do governo Bolsonaro dependem, para existirem, do sucesso da reforma da Previdência .

E, então, resta a incógnita quanto a como reagirá o bloco dos militares e qual a ordem unida que fará conhecer à “tropa”, no caso de o mercado decidir que seria melhor que os médio e longo prazos do governo Bolsonaro não chegassem a existir.