Difícil saber para onde caminha a humanidade. Mas é fácil perceber que os agentes públicos que sonegaram a Lula o direito de velar o corpo do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, caminharam na contamão dos mais elementares sentimentos humanos. Atropelaram-se valores civilizatórios como o humanismo e a própria Lei de Execuções Penais, que autoriza os presos a deixar o cárcere para comparecer, mediante escolta policial, a velórios e enterros de parentes próximos. O Supremo interveio. Mas a autorização chegou quando o corpo do irmão de Lula já se encaminhava para a cova.
Os arquivos eletrônicos do Departamento Penitenciário Nacional armazenam informações sobre o cumprimento da lei. Desatualizadíssimo, o banco de dados do órgão submetido à chefia do ministro Sergio Moro (Segurança Pública) informa que, no ano da graça de 2015, nada menos que 175.325 detentos deixaram suas celas para sepultar parentes. Ou seja: sonegou-e a Lula um direito, não um privilégio.
O pretexto da falta de tempo para planejar a “logística” do deslocamento do preso ofende a lógica, pois a morte bate de repente, sem aviso. A alegação de que a segurança pública e a própria integridade de Lula estariam em risco desafia a boa reputação da Polícia Federal, responsável pelo presidiário mais ilustre da Lava Jato.
Se quisesse, Lula ainda poderia usufruir do pedaço do despacho de Dias Toffoli em que o presidente da Suprema Corte facultou-lhe a possibilidade de se deslocar de Curitiba até São Bernardo para encontrar-se com seus familiares numa instalação militar. Mas ele decidiu se abster. Preferiu gravar no verbete da enciclopédia um parágrafo sobre o dia em que as autoridades responsáveis pela execução de sua pena confundiram cumprimento de sentença com vingança, manuseando a lei e as circunstâncias com a frieza dos robôs.
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PF sob Moro não dá conta de deslocar Lula, quer combater crime organizado como?, diz Kennedy Alencar
Jornal GGN – O jornalista Kennedy Alencar publicou artigo nesta quarta (30) afirmando que Lula é um “preso político” e que o tratamento dado a ele, desde o julgamento do caso triplex até as decisões que inviabilizaram sua ida ao velório do irmão mais velho, mancham o Judiciário e mostram que a democracia, no Brasil, segue morrendo aos poucos.
Alencar ainda ironizou a desculpa da Polícia Federal que, sob Sergio Moro, alegou não ter efetivo para fazer a segurança e tampouco uma aeronave ou helicóptero disponíveis para fazer o deslocamento de Lula.
Se a instituição hoje comandada por Moro admite que não tem estrutura para mover um ex-presidente preso, de Curitiba à região metropolitana de São Paulo, como que vai dar conta de combater o crime organizado, indagou o jornalista.
Alencar lembrou que, quando foi conveniente para a Lava Jato, a Polícia Federal montou uma estrutura grande para obrigar Lula a depor num aeroporto, sob a batuta de Sergio Moro.
Para Kennedy Alencar, a decisão de Dias Toffoli permitindo que Lula pudesse ver exclusivamente os familiares, mesmo após o enterro, mas dentro de uma unidade militar, tampouco deve ser elogiada. Foi uma “emenda ao soneto” do autoritarismo descabido da juíza Carolina Lebbos e do TRF-4.
Isto porque, na Ditadura, Lula saiu do DOPS para ir ao velório da mãe no local reservado pela família. Em plena democracia, o presidente do Supremo obriga Lula a sair da prisão para um quartel.
O ministro tentou limpar a imagem do Judiciário, mas acabou dando um tiro no pé.